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gum psicadélico (por muito que pode negar à obra, com todo o en-
venha à lembrança a antijazz ray volvimento que o Fender Rhodes
gun brandida pelo Eno jovem e re- de Adam Benjamin e os efeitos
belde). Mas não deixa de ser curio- de DJ Olive provocam, é uma uni-
so que o duo erga a divisa “no mi- dade conceptual que comprova a
crophones were used on this al- arte da colagem de Dave Dou-
bum” com o orgulho que o jazz glas. Ouça-se o bop do trompete
clássico apregoava — em nome do músico contra o “ruído” de fun-
da “verdade estética” — a inexis- do em ‘Kitten’, o aceno a Coltrane
tência de overdubs. E, se a música do saxofonista Marcus Strickland
anda carente de provas de fé em ‘Scopes’, ou a peça mais
num ideário, só se lamenta que funky, ‘Tough’. Obra desigual,
haja que esperar pela penúltima com grandes momentos, que tal-
faixa para que fique claro que tam- vez seja potenciada com as ima-
bém não lhe foi vedado o recurso gens da comédia de Fatty Arbuck-
à veia poética. Nada mais se con- le/Buster Keaton, de 1917, que a
clui da diversidade cénica e da inspira.
profundidade de campo dessa Raul Vaz Bernardo
“viagem de balão” de 24 minutos
senão quanto a música tem a ga-
nhar quando a máquina serve o
JJJJJ
homem. Ou não resultasse da hi- HANDEL:12
pótese contrária a exacta mais-va- CONCERTI
lia estética de uma demonstra- GROSSI,OP.6
ção de electromésticos efectuada IlGiardino
por Jean-Jacques Perrey em 1966. Armonico
Contradição fatal para quem invo- 3 CD L’Oiseau-Lyre/Universal
ca a natureza futurista da electró-
nica. R.S. NUM ANO em que se irão suce-
der gravações a propósito da co-
memoração dos 250 anos passa-
JJJJJ
dos sobre a morte de Handel, o
MOONSHINE maestro e flautista Giovanni Anto-
DaveDouglas nini conduz o grupo que fundou
&Keystone em 1985 pelos “12 Concertos”
Greenleaf/ compostos por Handel em 1739,
Universal no escasso espaço de um mês.
Ainda há dias, este agrupamento
MAIS uma inteligente produção de Milão actuou em Lisboa, inter-
de Dave Douglas, desta vez com o pretando ao vivo quatro dos con-
sexteto que designa por Keysto- certos concebidos para não fica-
ne. Trata-se duma música que li- rem atrás dos de Corelli e Gemi-
ga o que soa mais óbvio, um funk niani. Além de Luca Pianca (alaú-
derivado do Miles pós “In a Silent de, teorba) e de Paolo Beschi (vio-
Way”, com uma desenvoltura loncelo), Antonini é acompanha-
bop à qual é acrescentada uma do nesta incursão por Enrico Ono-
actualização representada por DJ fri (violino), de tal forma que os
Olive nos turntables. Dave Dou- veteranos surgem como o enérgi-
glas, que já nos surpreendeu com co “pelotão da frente” que orien-
o minimalismo do Tiny Bell Trio ta os cerca de 27 instrumentistas
ou mesmo com experiências que interpretam páginas de Han-
mais “camarísticas”, parece-me del consideradas pelos musicólo-
estar num estado de submissão gos como um verdadeiro com-
ao groove que amputa a sua ima- pêndio de música barroca. Encon-
ginação para a originalidade que trar o carácter específico e a per-
muitos para ele reclamam. Nin- sonalidade de cada um dos 12
guém poderá refutar a tremenda concertos foi o desafio a que os
influência que toda a música re- músicos italianos procuraram
cebe dos conceitos de Miles Da- responder. O gesto handeliano ga-
vis, mesmo que o músico lembre, nha em precisão com a formação
em ‘Flood Plane’, com a voz de orquestral utilizada, de maneira
George Bush em fundo, todas as tal que a fantasia e ligeireza das
suas preocupações de artista peças nunca consegue excluir a
americano. Todavia, o que não se sua grandeza. A.R.