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JUSTIÇA
80% dos
candidatosaoCEJ
com Maximiano Rodrigues, o lendário procu-
rador das gravatas às cores. “A primeira grava- sãomulheres.
tirámos aquela fotografia quando se con-
cluiu um determinado processo porque esta-
ta um pouco extraordinária que usou foi na to-
mada de posse como inspector-geral da IGAI. Elas já chegaram
va tão bonito, tão bem organizado”. O ‘Apito
Dourado’? “Era. Estava tão bonito, que até
Fui eu que lha dei. Tinha o sol, uvas e umas
cores muito bonitas. Passou a ter uma paixão ao topo do
tive pena de o deixar. Às vezes os processos
são como pessoas para nós. A ideia foi mi-
pelas gravatas e sempre com muita cor”, lem-
bra a orgulhosa Cândida. Conheceram-se em MinistérioPúblico
nha, vamos tirar uma fotografia com o pro-
cesso. Riram-se mas gostaram imenso e hoje
Grândola e quando o primeiro casamento da adoramos aquela fotografia”.
procuradora terminou, apaixonaram-se. “Era Mizé, como é tratada pelo mais íntimos,
uma pessoa única. Tinha uma inteligência rápi- cria relações de fidelidade com os colaborado-
da que destruía qualquer argumento e um sen- res. Na PJ, ficava até às tantas da manhã a
tido de humor fino. E sobretudo descobria deci- analisar papelada, a fazer o trabalho mais cha-
sões de direito que nunca ninguém se atreve- to. Não se fechava no gabinete. Quando saiu,
ria a pensar que existiam. Adoptou a Cristina em conflito com o então director Adelino Sal-
como filha dele. Adoravam-se”. vado, deixou para trás o segurança, o senhor
Rodrigues Maximiano morreu em Março Albuquerque. O polícia foi colocado numa
do ano passado, num domingo. A luta contra portaria, uma espécie de punição. Assim que
o cancro durou dois anos. “Partilhámos tu- Pinto Monteiro a convidou para chefiar o
do. Ele resolvia os sustos, isolando-se. Ou in- sete da manhã para não me acordar. As pri- DIAP de Lisboa, a procuradora resgatou-o.
do para a praia, ou aqui para o meio do cam- meiras pessoas a serem descobertas foram a “Eu não o resgatei. Pedi à PJ o destacamento
po com a cadelinha que ele gostava muito. mulher e a filha. Escapou a pequenita que de pessoas que eram da minha confiança, não
Arrumava a cabeça e voltava bem”. Cândida agarrou no irmão mais novo e foi embora. ia pedir o destacamento de pessoas que eu
nunca mais usou os lenços coloridos a condi- Fugiu e só por isso é que ele não a matou. Só não conhecesse, não é?”. Desde que pegou no
zer com as gravatas do marido. “A força dele no dia seguinte é que se descobriram os ou- processo ‘Apito Dourado’ deixou de andar a
era muito maior e arrastava-me. A queda foi tros corpos na praia do Osso da Baleia”. pé. “O senhor Albuquerque não deixa”.
maior por causa disso. Até à última hora ele É uma mulher franca, sem muito jeito pa- Tem uma filha psicóloga que dá aulas de
esteve convencido de que ia vencer a situa- ra compromissos. Enfrentou Pinto Monteiro ioga, mas nunca experimentou: “Não gosto.
ção”. Oito dias depois morria o primeiro ma- por discordar da formação de equipas espe- Ela tem um projecto de fusão do ioga com a
rido, pai da única filha de Cândida Almeida. ciais para investigar crimes que lhe compe- psicologia e até fez uma pós-graduação em
Como é que se recupera? “Não se recupera”. tiam e deu uma conferência de imprensa iné- Liverpool sobre isso. É um mundo completa-
dita para se defender das críticas de Ricardo mente diverso do meu como podem calcu-
Aos15anosHortênsiaCalçada, criada numa Bexiga, o vereador agredido e cujo caso nun- lar. Ela decidiu que nunca queria ter nada a
família modesta de Bragança enfrentou a fa- ca foi esclarecido. ver com alguma coisa que fosse Morgado ou
mília. Queria ir para Coimbra estudar Direi- “O que nos revoltou foi o facto do doutor Saldanha Sanches no caminho profissional
to, mas os pais tinham medo: “Foi em 71, a Ricardo Bexiga ter dito que o processo tinha dela. Faz as coisas sozinha e acho que é as-
seguir à crise de 1969, em que se começava a estado na gaveta quando não esteve. E ele sim que deve ser”.
falar que havia droga, aquela história do sabe bem que não esteve”. Por ela, o caso É casada com o fiscalista Saldanha San-
amor livre, as liberdades. A minha mãe e o não tinha sido reaberto. “Li o livro da Caroli- ches e a história não dava um romance de cor-
meu pai pensavam: Meu Deus, o que é que na até às quatro ou cinco da manhã. Uma del: “Eu era pouco exigente. Ele começou a
vai acontecer à minha filha? Vai perder-se pe- literatura óptima, estive a tirar notas, a ver encontrar-se comigo e a vir comigo para a fa-
lo caminho”, conta a rir no sofá da sala com se tinha algum elemento que pudesse fazer culdade. E um dia declarou-se, estávamos nós
um velho acordeão ao colo. “Tive grandes reabrir não só os processos do ‘Apito Doura- a fazer comunicados clandestinos na sala da
choques ideológicos com os meus pais, com a do’ que tínhamos arquivado, como o do Bexi- associação de estudantes do Instituto Supe-
minha mãe, mas eduquei-os, entre aspas. Eu ga e não vi lá nada”. O clima piorou quando rior Técnico. E ele achou que era o momento
era a mais velha, e os mais velhos têm sem- Almeida Pereira, número dois do DIAP do acertado, pronto. Eu estava preocupada com
pre uma responsabilidade maior”. Porto, se viu obrigado a recusar a liderança outras coisas, ia andando assim sem pensar
Foi viver para um lar de freiras, o compro- da PJ devido à discordância do procura- muito nisso. Mas alguma coisa existe para es-
misso possível. “No ambiente em que fomos dor-geral. Apesar da resistência de Pinto tarmos juntos ao fim de trinta e tal anos”. Foi
educadas, uma rapariga que vai para o café Monteiro, Hortênsia Calçada acabou por sair presa, torturada, mas não ficou especialmen-
não pode ser uma rapariga muito séria. Em do segundo maior DIAP do país. As posições te traumatizada: “Nunca sonho com isso”. n
Coimbra começo a ver que afinal não era na- estavam demasiado extremadas.
da disso. As pessoas podiam ir ao café e eram
sérias na mesma, não eram nada levianas”. NogabinetedaGomesFreire, ao lado de um
Foi a primeira mulher magistrada nas vá- apito dourado com a citação “manda quem
rias comarcas por onde passou e ficou marca- pode, obedece quem tem juízo” (parte de
da por um processo. O caso de Vítor Jorge, o uma escuta do processo), há uma fotografia
“AS PROCURADORAS”
mata-sete. “Eu estava de turno quando ele especial numa prateleira. Homens e mulhe- na Grande Reportagem,
matou aquela gente toda e foram-me cha- res de ar sorridente posam atrás de uma fila
para ver amanhã na SIC
após o Jornal da Noite
mar. A GNR esteve à minha espera até às de dossiês de cartão. Morgado explica: “Só
28 REVISTA ÚNICA ·31/01/2009
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