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Expresso, 31 de Janeiro de 2009 PRIMEIRO CADERNO 05
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CONTRA SÓCRATES
Segredos do sr. Freeport
Ainda há muito
por explicar
O Expresso descobriu onde dos cada vez mais agressivos. À O processo judicial que se se-
no processo vive o homem que era quarta pergunta, responde que guiu atraiu os media e forçou o
administrador do Freeport não se chama Sean Collidge mas milionário a mudar de estraté-
na data em foi inaugurado. sim Bradley. Uma mentira que gia. Prudência tornou-se a sua
Sócrates pode chamar-lhe “campanha ne- Sean Collidge mentiu aos serve apenas para ganhar tempo palavra de ordem, principalmen-
gra” ou o que quiser, mas a carta rogató- jornalistas e ocultou até e se livrar dos repórteres. A casa te depois do suicídio de Paul
ria não retoma as acusações de 2005. a sua identidade está, aliás, registada em seu no- Bradshaw, seu motorista, em
Em primeiro lugar, nessa carta o primei- me e da mulher. “Por favor, quei- Março de 2007, acusado pela
ro-ministro aparece “sob investigação” O fundador do grupo Freeport ram sair da minha propriedade”. justiça de o ajudar em negócios
por ter “solicitado, recebido ou facilitado reside no sul de França, perto É uma ordem. pouco claros. Bradshaw, que de-
pagamentos que sejam relevantes aos cri- de Cannes. E quase não sai de pois testemunhou contra o seu
mes indicados” (suborno e corrupção). casa. O bairro de mansões de lu-
Vida rocambolesca
patrão, foi encontrado morto
Podemos acreditar que isso venha de há xo permite ao inglês de 65 anos uma semana após o processo ter
quatro anos. Mas a suspeita de que, logo ter uma vida recatada, longe do Sean Collidge viveu no Mónaco entrado no Tribunal.
após uma reunião a 17 de Janeiro (com o turbilhão das últimas semanas. desde o início de 2000, com a Também em 2007, o Supremo
topo da Freeport — Collidge, Russell, As autoridades britânicas acu- sua mulher, Susan. O principa- Tribunal acusou Sean Collidge
Smith, Pedro —, além do presidente da sam-no de burla e desvio de fun- do foi a primeira sede do Free- de “mentiroso” e de obstrução à
Câmara de Alcochete e do secretário de dos do Freeport para fins pes- port (adquirido em 2006 pelo Justiça. A provarem-se as acusa-
Estado, entre outros), Sócrates teve, no soais e investigam a sua ligação grupo Carlyle, de Frank Carluc- ções de perjúrio e de desvio de
mesmo dia, uma reunião à parte apenas a José Sócrates, quando este era ci). Há três meses, porém, a fa- um milhão de libras dos cofres
com Collidge, Russell, Smith e Pedro na ministro do Ambiente. Os ingle- mília deixou o apartamento na do Freeport, arrisca-se a uma pe-
qual — e eis o que diz na carta — “efec- ses suspeitam que Sean Collidge Rue du Portier, próximo do sada pena de prisão.
tuou alegadamente um pedido que seria tenha oferecido ‘luvas’ para lega- ex-quartel-general da empresa. Os novos vizinhos também na-
equivalente a um suborno” não é informa- lizar o projecto do Freeport em Agora, longe vão as bebidas da sabem sobre o sexagenário.
ção que já existisse e terá sido confirma- Alcochete, numa reunião a 17 de com a família real, as fotos com “Discreto” é a palavra que me-
da por mailsapreendidos. Janeiro. “Não sei nada sobre o supermodelos e as viagens exóti- lhor o descreve. Um dia depois
Por último, e logo a seguir a essa data te- Freeport”, declara rispidamen- cas. Ainda há 10 anos era conside- da conversa com o Expresso,
rão sido feitos uma série de pagamentos te o empresário, ao abrir os por- rado um dos homens preferidos Collidge não voltou a abrir o por-
de 50 mil libras à Smith&Pedro, agentes tões da sua casa ao Expresso. das britânicas, como lhe chama- tão da mansão, ignorando a cam-
do Freeport em Portugal, que o próprio Collidge não esperava a visita vam os tablóides. Quando, em painha durante todo o dia. E só
Smith, no vídeo gravado à sua revelia por dos jornalistas vindos de Lisboa 1999, inaugurou o Freeport Oa- atendeu uma chamada de telefo-
Alan Perkins, diz terem ido parar a uma e depois de se aperceber quem sis, em Castleford, a sua populari- ne, desligando-o abruptamente
conta de um primo de Sócrates (Hugo éramos reage com hostilidade. dade estava no auge. Mas tudo quando percebeu de quem se
Monteiro, provavelmente). Nunca mostra as mãos, escondi- mudou, do dia para a noite quan- tratava. A meio da tarde, po-
A maioria destas pistas é da investigação das por um parapeito, e não des- do, em 2006, depois de sucessi- rém, um dos seus empregados,
portuguesa, que agora desvaloriza o ca- ce as escadas que separam a en- vas quebras nas receitas e da ven- que saiu do casarão rústico de
so. Mas o facto de terem existido diligên- trada de casa do pequeno parque da da Freeport à Carlyle, se des- carro, falou com o Expresso: “E-
cias e buscas (em casa e na empresa de de estacionamento, ao lado da cobriu que Collidge usara indevi- le disse chamar-se Bradley? Es-
Júlio Monteiro, tio do primeiro-ministro e piscina. Fixa-nos os rostos com damente a empresa para fins pes- tranho. Mas o dono da casa é
a um dos mais conceituados escritórios ar ameaçador. “Não sei o que pro- soais, além de se ter apropriado mister Sean Collidge...”.
de advogados de Lisboa) fazem acreditar curam mas devem ter-se de diversos bens do Freeport: des- Hugo Franco
que há alguma consistência nos indícios. enganado na mora- de bicicletas, a aspiradores, má- em Cannes
Além disso, o facto de a Procuradoria afir- da”, diz, de mo- quinas de café e até bolachas. hfranco@expresso.impresa.pt
mar que não há suspeitos parece total-
mente contraditório com estas buscas.
Claro que nada disto atinge directa-
mente o primeiro-ministro, mas há
muito que ele tem ainda de explicar,
tanto mais que as peças do proces-
so parecem encaixar bem de mais.
A FAVOR DE SÓCRATES
Nadadenovo
desdeosrumores
de2005
José Sócrates tem razão quando diz que
não há nenhum facto novo na investiga-
ção em torno do caso Freeport no que a
ele lhe toca e que tudo o que existe já cons-
tava da acusação anónima de que foi alvo
há quatro anos.
É isso que decorre liminarmente da leitura
da Carta Rogatória do Serious Fraud Offi-
ce. Com efeito, quer a colocação do seu
nome como sendo considerado «sob inves-
tigação no sentido de ter(em) solicitado,
recebido ou facilitado pagamentos», quer
a alegada reunião que teria tido a 17 de
Janeiro com Sean Collidge, Gary Russel,
Charles Smith e Manuel Pedro, onde tam- SeanCollidgefotografadonasuaresidênciadosuldeFrança,naquinta-feira FOTO JOSÉ VENTURA
bém alegadamente teria efectuado «um
pedido que seria equivalente a um subor-
no», baseiam-se na Carta Rogatória da
Procuradoria portuguesa, de 12 de Agosto
de 2005, cujos factos assentam, por sua
vez, na tal denúncia anónima.
Os polícias de Elm Street
Como se sabe, Sócrates nega que tenha
tido qualquer reunião a sós com os promo-
tores do empreendimento. E o facto é que
Charles Smith, que num vídeo de 3 de Mar- A agência governamental dos de participar numa fraude aceite referem que deve ter uma
ço, gravado sem ele saber e que não serve que está a investigar o caso de 420 milhões de libras na bol- dimensão internacional “signifi-
de prova nos tribunais portugueses, afir- Freeport funciona a partir sa de Londres. cativa”, que seja provável causa-
ma ter feito «pagamentos de subornos» de um prédio discreto no O valor da fraude, o tipo de tra- dor de alarme social e que exige
em numerário a um primo de José Sócra- centro de Londres balho e os poderes do SFO fi- um conhecimento técnico alta-
tes, não só nega posteriormente as alega- cam bem evidentes. Desde logo, mente especializado.
ções específicas de corrupção numa inqui- As câmaras de vigilância exterio- trata-se de uma agência gover- Por ano, o SFO recebe entre
rição sob aviso a 17 de Julho de 2007 feita res captam todos os movimen- namental com poderes equipara- 20 a 30 casos e tem cerca 80 si-
pela Polícia da Cidade de Londres, como tos no quarteirão onde está a dos à Procuradoria nacional bri- tuações de fraude entre mãos. A
em nenhum momento refere que o dinhei- Elm House, a sede do Serious tânica — o que lhe permite rece- taxa de condenações ronda os
ro teve como destino o ex-ministro do Am- Fraud Office (SFO) e o prédio ber denúncias, investigar e acu- 80%, segundo o director do
biente. Além do mais, são ainda menos cre- mais conhecido de Elm Street. sar suspeitos. No entanto, tem SFO, Richard Alderman. O Free-
díveis as acusações de que «foram pagos Para muitos, os piores pesade- poderes limitados no que diz res- port é um dos casos em investi-
montantes mais importantes (até 5 mi- los começam aqui mesmo. peito a efectuar buscas e proce- gação mas o SFO escusou-se a
lhões de libras) a uma empresa de advoga- As vítimas mais recentes, cin- der a detenções: dois casos em comentar o caso português.
Sócratesparticipou dos ligadas a José Sócrates como paga- co espanhóis e um argentino de- que tem, necessariamente, de “Neste momento, não podemos
numareuniãoasóscom mentos de subornos a partir de fontes do tidos pela polícia espanhola em contar com a colaboração das confirmar nem negar nenhum
responsáveisdoFreeport. Reino Unido». Barcelona há uma semana, aju- autoridades policiais. Os casos facto nem responder a qualquer
Estaéainformaçãoquea É a própria Carta Rogatória do Serious dam a perceber de forma clara o de fraude que envolvam menos questão”, disse David Jones, por-
políciaportuguesapassou Fraud Office que as considera como «ale- funcionamento do SFO. Os seis de 1 milhão de libras são imedia- ta-voz da organização.
àsautoridadesbritânicas gações menos específicas», ou, por outras homens, com idades entre os 56 tamente recusados. Outros crité- Ricardo Marques em Londres
palavras, muito pouco verosímeis. e os 76 anos, deverão ser acusa- rios para que um processo seja rmarques@expresso.impresa.pt
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