telecomando
porJoséAlvesMendes
jmendes@expresso.impresa.pt
Memórias do teatro
à moda da televisão
EM1978,doisanosantesdoiníciodas paraoditocenárioatravésdaRTP rasgosdegénioemero
emissõesregularesacoresdaRTP,uns Memória.Comoutraversãode“A ‘desenrascanço’,entreoriscodo
quantossortudosdotadosdeaparelho MaluquinhadeArroios”(a directoeasegurançadagravação.
certoepioneiroregalavamossentidos assinadaporLaFérianosanos Muitaspeçasseperderam,masoque
comostonsquasefaiscantesda 90),aestaçãodevolveoteatroà sobreviveuchegaparafazerdeste
produçãoemvislumbreexperimental televisão,fá-loaritmosemanal “TeatrodeCompanhia”umarubrica
de“AMaluquinhadeArroios”,de esempreàsegunda-feira, imperdível.Vemamesmalembrara
AndréBrun,peloTeatroExperimental proverbialfolgadeactores. faltadeconsensoquantoàgrande
deCascais.O‘virtuosismo’dacor,no Chamaao‘espaço’o“Teatrode questão:porqueéquenãoháteatro
entanto,eraincapazdeescondera Companhia”efazmaisdo ememissõesregularesnatelevisão?
grandeverdade:oteatroemtelevisão mesmodia2,comaobscurae Háfaltademeios?Nãoháquemsaiba
tinhaporcáosdiascontados.A aterradoraversãodeJorgeListopad escreverteatroparaTV?Os
irregularidadedassuasemissõesna de“FreiLuísdeSousa”,deAlmeida encenadoresqueremmanteroteatro
décadade80foiflagrante.Naúltima Garrett,comCarmenDolores(1967). comoumaexperiênciaaovivoque
quinzenadeanos,oteatro CabedizerqueosarquivosdaRTP perdetudo(ouquase)aopassarno
desapareceudosecrãsdaTVestatal, estãolongedeviverodescalabro pequenoecrã?Asgentesdaóperanão
deixandoaoscanaisprivadosalguns tantasvezestemido,mastambémé têmesseproblemaequememiteum
arremedosdogénero,entreteatrode certoqueoteatrofoidasáreasque concertomuitomenos:bastairaos
revista,“Levanta-teeRi”eseusafinse maissofreucomosdiferentesregimes ensaioseconheceraobra,estudaro
escassasexperiênciadecomédia‘sem deprioridadefaceaoqueera‘para movimentodosactoresoua
rede’eemdigressãopaísfora.Só ficar’ou‘gravarporcima’.As disposiçãodaorquestra.Dequalquer
FilipeLaFériafoirumandosozinho, primeirasduasdécadasdelaborsão forma,oregressodoteatroàTV,
contraventosouafavordamaré. gloriosaseacentuamoteatrofeito mesmoquenumcantinhode
Atelevisãopúblicaacordafinalmente propositadamenteparaaTV,entre recordações,édeaplaudir.Depé.
AARTEDAFUGAcomFILIPEFOLHADELAMOREIRA
Qualabandasonora kora de 21 cordas. Ravi Julio Cortázar. Uma arrebatar-me foi “As
dosseusdias? Shankar e bossa nova. obra-prima da literatura Ondas”, de Virginia
Vivo rodeado de Passado (muito) do século XX. Dá-nos a Woolf. Amor à primeira
música. Embora o presente: Lamb, Pixies, hipótese de leitura vista. Adoro mulheres
instrumento mágico Cure, Smashing saltitante (73, 1, 2, com ‘pancas’,
seja o piano, nestes Pumpkins, Portishead. E 116...). Vivamente problemáticas. Como
dias chuvosos tenho irei no dia 13 de recomendável. Tem Florbela Espanca ou
ouvido as suites para Fevereiro ao Coliseu de como protagonista um Sarah Kane. E há
Começou por Direito, mas deu violoncelo de Bach. Vai Lisboa ver o concerto argentino culto, cheio sempre Pessoa...
para o torto. Perdeu o Norte (é bem com a melancolia dos Tindersticks. de mundo, que reside Quefilmesotêm
natural do Porto) e veio para o da época. Das últimas Imperdível. em Paris com a arrebatado?
Sul. Filipe comunica ao mundo o descobertas foi a folk Oqueandaaler? sensação de estar vazio Cinema asiático. É
que acontece numa casa do minimalista e intensa “O Jogo do Mundo — por dentro. Mas o incrível a forma como
mundo. Ou seja, é responsável da inglesa Scout Rayuela”, do argentino último livro a comunicam para lá do
pela comunicação da Culturgest. Niblett. E depois há o verbo. Destaco “Três
Mergulhar é um escape. jazz, que me Tempos”, de Hou
Fotografar e escrever fazem parte acompanha: Miles Hsiao-hsien, e “Ferro 3”
dos dias. Nas horas vagas, ler, Davis, John Coltrane, de Kim Ki-duk.
ouvir, ver ou só estar. Se forem Jan Garbarek, Zakir Sobretudo este último,
muitas, viajar. Arte da fuga? Hussain, Keith Jarrett. onde os dois amantes,
Simplesmente ir indo. Sem pressa Sem esquecer o sem dizerem uma
de chegar. Toumani Diabaté, palavra ao outro,
Bernardo Mendonça virtuoso tocador de conseguem dizer tudo.
38 31 Janeiro 2009 Expresso