18 ECONOMIA Expresso, 31 de Janeiro de 2009
GLOBAL INVESTMENT CHALLENGE
Crise financeira foi a maior
dificuldade para os concorrentes
Competição de bolsa marcada por ambiente de alta tensão nos mercados
CRONOLOGIA
04NOV Obama vence eleições
presidenciais norte-americanas.
06NOV Banco Central Europeu corta
os juros de 3,75% para 3,25%.
14NOV Zona Euro entra em recessão.
Líderes das 20 maiores economias
mundiais encontram-se para debater
Realizado num dos períodos mais con- medidas para travar a crise financeira.
turbados de sempre para os mercados 23NOV EUA injectam 20 mil milhões
mundiais, o teste aos participantes do de dólares no Citigroup, depois de o
Global Investment Challenge dificil- banco ter perdido mais de 60% numa
mente poderia ser mais exigente (ver semana.
cronologia). A competição de bolsa ar- 26NOV Comissão Europeia divulga
rancou no início de Novembro, numa plano de estímulo económico no valor
altura em que as bolsas viviam a ressa- de 200 mil milhões de euros.
ca da falência do banco de investimen- 11DEZ Bancos centrais cortam
to norte-americano Lehman Brothers, novamente juros. BCE efectua corte
a 15 de Setembro. A queda desta insti- recorde na taxa de referência de 75
tuição lançou o pânico nos investido- pontos base, para 2,5%.
res, congelando os mercados de crédi- 31DEZ PSI-20 fecha o ano com o pior
to e levando a volatilidade a atingir má- registo de sempre. Perdeu 52% do seu
ximos históricos. Os governos das valor em 2008.
maiores economias mundiais também 15JAN BCE baixa os juros para 2%.
ficaram em alerta, lançando em Outu- 16JAN Bank of America alvo de uma
bro os primeiros pacotes de resgate ao injecção estatal de 20 mil milhões de
sistema financeiro. A crise que se ini- dólares.
ciara nos EUA com activos relaciona- 20JAN Reino Unido cria segundo plano
dos com crédito hipotecário de alto ris- de resgate ao sector financeiro. Acções
co deu lugar àquela que muitos consi- do sector afundam com receios de
deram a maior tempestade financeira nacionalizações.
desde 1929. Este foi o cenário com que 21JAN França disponibiliza mais 10,5
os participantes se depararam duran- mil milhões de euros para recapitalizar
te toda a competição, que consituiu banca.
um puzzle de difícil resolução. 22JAN Governo da Flandres injecta 2,5
E à medida que o concurso avançava mil milhões de euros para salvar o
no tempo, a situação não ficava mais banco KBC.
animadora. A paralisação nos merca- 26JAN Grupo ING recebe ajuda do
dos de crédito tornou mais caro e es- Estado holandês depois de apresentar
casso o financiamento não só aos ban- um prejuízo de mil milhões de euros e
cos como também às empresas e aos de ter despedido sete mil
particulares. Consequência: o consu- trabalhadores. BNP Paribas regista
mo e o investimento diminuíram colo- primeiro prejuízo trimestral da sua
cando as economias mundiais em re- história e recorre a uma injecção
cessão. E, se a crise se abatera primei- estatal de 2,5 mil milhões de euros.
ramente sobre o sector financeiro, cas- Ainstabilidadeestevesemprepresentenosmercadosbolsistasdetodoomundo FOTO RICHARD DREW / AP
tigando a cotação das acções do ban-
co, propagou-se rapidamente a outras nistas através de dividendos, consegui- foram uma das fases mais positivas
áreas de actividade, como as construto- ram evitar perdas tão acentuadas. para as bolsas. O índice de referência
ras automóveis, por exemplo. As ac- Para piorar a tarefa dos investidores, do mercado nacional, por exemplo, te-
ções de empresas com modelos de ne- e dos concorrentes do Global Invest- ve a melhor sequência de ganhos de
gócio mais sensíveis à evolução da eco- ment Challenge, alguns dos players início de ano da última década. Mas o
nomia foram as mais penalizadas. Isto com maior peso nos mercados, como optimismo durou pouco. As medidas
porque os agentes de mercado tendem os hedge funds, foram obrigados a des- de auxílio à banca e de estímulo eco-
a antecipar os acontecimentos relevan- fazer-se de activos, já que os investido- nómico lançadas no ano passado reve-
tes para os mercados, sendo a evolu- res resgataram as suas aplicações em laram-se insuficientes para travar a
ção dos lucros das cotadas um dos fac- massa. Esta sequência colocou pres- crise. Nos últimos dias, os governos
tores com maior peso na hora de se são vendedora e foi mais um dos facto- foram novamente obrigados a inter-
avaliar uma acção. E as expectativas res a penalizar as bolsas. vir para evitar o colapso do sistema
negativas sobre a saúde da economia financeiro e, nos EUA, a Administra-
indiciavam uma queda nos resultados
Primeiros negócios no concurso
ção Obama está a preparar novos pla-
empresariais. O pessimismo ia-se re-
foram os mais difíceis
nos de combate à crise.
forçando à medida que se sucediam os O objectivo do Global Investment
avisos por parte de cotadas de que o Muitos dos concorrentes contactados Challenge era contribuir para promo-
volume de negócios iria decrescer no pelo Expresso ao longo da competição ver o conhecimento sobre os merca-
futuro e que os analistas reviam em apontaram o início do concurso como a dos financeiros. E, para além de per-
baixa as suas estimativas para os resul- fase mais difícil. As bolsas mostravam mitir uma maior familiarização com
tados empresariais. Os problemas de ‘cara feia’ e os participantes que opta- a negociação de acções, o concurso
financiamento penalizaram ainda as ram por preservar a quantia virtual de deu a possibilidade de os concorren-
cotadas com níveis de dívida elevados ¤100.000 disponibilizada no Global In- Apesar de a tendência do mercado zações deveram-se a notícias positi- tes testarem estratégias de investi-
face aos resultados que conseguem vestment Challenge em liquidez acaba- ser de desvalorizações, houve algu- vas, como anúncios de pacotes de estí- mento que conseguissem dar resulta-
apresentar. Já empresas consideradas riam por sair beneficiados. Foi o caso mas sessões de ganhos elevados, que mulo à economia por parte dos gover- do em períodos de instabilidade nos
defensivas, isto é, com situação finan- do concorrente que venceu a primeira permitiram aos concorrentes impul- nos ou a baixa de juros por parte dos mercados. Porque, como é costume
ceira estável, baixos níveis de dívida e fase da competição, que só foi às com- sionar a performance das suas cartei- bancos centrais. As últimas sessões dizer-se, é com as dificuldades que se
generosas na remuneração aos accio- pras na terceira semana do jogo. ras de investimento. Os dias de valori- de 2008 e as três primeiras de 2009 aprende mais.
PSI-20 foi o melhor índice do Global Investment Challenge
Lisboa destacou-se pela As dificuldades que marcaram o tros mercados europeus nos últi- Apesar do cenário de quedas, 97,12%. Já o último classificado, petição, os concorrentes tinham
positiva entre os mercados investimento em bolsa durante mos meses, o índice de referên- cerca de 40 concorrentes apre- conhecido na competição como €100.000 virtuais para aplica-
de Paris, Amesterdão e a competição ficam bem marca- cia do mercado nacional foi um sentam ganhos superiores a ‘Mmpereira’, viu os seus investi- rem nos mercados Euronext
Bruxelas, apesar de o índice das no desempenho dos índices dos que mais desceram em 20% na carteira de investimento mentos encolherem 38%. (Lisboa, Paris, Bruxelas e Ames-
de referência apenas ter de referência. O Euronext 100 2008 na Europa, perdendo mais e 32% dos participantes conse- O Global Investment Challen- terdão). Para além de se terem
subido 0,65% cedeu mais de 9% nos últimos de metade do seu valor. Já o índi- guiram ter desempenho positi- ge foi organizado pelo Expresso habilitado a prémios, o concur-
três meses. Já o PSI-20 conse- ce francês CAC-40 foi o que te- vo. A líder do concurso, ‘Susy’, e pela SDG. Contou com o apoio so deu a oportunidade aos parti-
guiu, no mesmo período, ga- ve pior registo durante a compe- praticamente conseguiu dupli- institucional da NYSE Euronext cipantes de testar estratégias de
nhos ligeiros de 0,65%. Apesar tição de bolsa, resvalando mais car o valor do seu portefólio, e com o patrocínio do Banif Gru- investimento num cenário próxi-
do bom desempenho face aos ou- de 11%. com uma rendibilidade de po Financeiro. No início da com- mo da realidade.