TEORIA DA EVOLUÇÃO
Darwin nem Wallace marcam presença na giosas não tinham qualquer problema com a provas que suportassem as afirmações da
sessão. O primeiro chorava a morte, dois teoria de Darwin e viam-na como mais uma Cristandade.” Quase ironicamente, e apesar
dias antes, do filho mais novo, de 19 meses. das leis naturais de Deus para governar o Uni- de se afirmar agnóstico, foi sepultado, em
O segundo estava ainda no Sudoeste Asiáti- verso.” O próprio Darwin, apesar de ter per- Abril de 1882, na Abadia de Westminster.
co. No final, nem aplausos nem críticas fero- dido progressivamente a fé, nunca ousou ne- Os debates inflamados que a obra provo-
zes. Apenas indiferença. “O ano que passou gar a existência de Deus. “A conclusão mais cou contrastam com a personalidade tranqui-
não foi marcado por nenhuma dessas desco- simples é que toda esta questão está para lá la do seu autor. Apesar de seguro das suas
bertas notáveis que de imediato revolucio- do intelecto de qualquer homem”, admite. convicções, era tudo menos um rebelde e sem-
nam o departamento de ciências que as pro- Segundo Tim Berra, autor do recente pre se manteve alheio às tempestades que a
duziu”, resumiria no final desse ano o presi- “Charles Darwin: The Concise Story of an sua teoria provocava. Depois da publicação
dente da sociedade, Thomas Bell. Extraordinary Man” (Charles Darwin: A His- de “A Origem das Espécies”, prossegue uma
A indignação chegaria apenas a 24 de No- tória Concisa de um Homem Extraordiná- vida tranquila no refúgio da Down House, de
vembro de 1859, quando Darwin publica fi- rio), a morte da segunda filha, Anne, aos 10 onde raramente sai nas duas últimas décadas
nalmente a sua obra imortal. Os 1250 exem- anos, “acabou com qualquer resquício de de vida, marcadas por uma misteriosa doença
plares da primeira edição esgotam-se em me- cristandade em Darwin”. Van Wyhe discor- sobre a qual existe hoje muita especulação.
nos de 24 horas e o livro gera um escândalo da. “É algo que não está provado. O que se Custa a crer, mas, dois séculos após o seu
sem paralelo nos sectores mais conservado- sabe é que, após a viagem do ‘Beagle’, ele foi nascimento e 150 anos depois da publicação
res. Ainda que Darwin nunca o explicite no perdendo a fé ao perceber que havia poucas da sua obra seminal, Darwin continua a ge-
livro, a teoria de que todas as espécies têm
um antepassado comum só poderia ter uma
conclusão: a de que o Homem e o macaco
partilhavam a mesma ancestralidade. Na im-
prensa, chega a ser retratado pelos caricatu-
ristas com uma cauda e um corpo simiesco.
ElestambémdesafiaramaIgreja
“A controvérsia foi terrível em termos da so-
ciedade vitoriana”, garante João Caraça, di-
rector do serviço de Ciência da Fundação Ca-
louste Gulbenkian, que, entre outras iniciati-
vas, abrirá ao público no dia 12 de Fevereiro a
exposição “A Evolução de Darwin”. “Foi uma
autêntica revolução, nos termos em que o que
define uma revolução é, após ela, não ser pos-
sível voltar a pensar como antes.” Um argu-
mento que provavelmente faria corar Dar-
win, conhecido pela sua modéstia. “Dada a
mediocridade das minhas capacidades, é ver-
dadeiramente espantoso que tenha influencia-
do consideravelmente a opinião dos homens
de ciência”, refere na sua autobiografia.
Ao defender a evolução por selecção natu-
ral sem qualquer intervenção divina, Dar-
win entra em rota de colisão com a Igreja.
Para a história fica o duelo verbal que teve
lugar em Oxford em Junho de 1860, entre o
zoologista Thomas Huxley, conhecido como
o“bulldog de Darwin”, e o bispo de Oxford,
Sam Wilberforce. Na acesa troca de pala-
vras, Wilberforce quis saber se era da “parte
da avó ou do avô” que Huxley descendia do
macaco. A réplica ficou célebre, embora per-
sistam dúvidas sobre as suas exactas pala-
vras: “Prefiro ter um macaco insignificante
como avô a um homem que introduziu o ridí-
culo num debate científico sério.”
Nicolau Copérnico
Certo é que a polémica, alimentada sobre-
(1473-1543)
tudo pelos sectores mais religiosos, terá dura-
Astrónomo polaco, foi o autor da teoria heliocêntrica, segundo a qual a Terra e os outros planetas
do “pouco mais de uma dezena de anos”, ga-
gravitavam em volta do Sol — e não o contrário, como se acreditava há mais de 1000 anos. Apesar
rante Van Wyhe. “O grande confronto entre
de, na época, o seu modelo não ter sofrido grande oposição da Igreja católica — que então postula-
va essencialmente o geocentrismo de Aristóteles e Ptolomeu —, o seu livro “De revolutionibus
ciência e religião é um pouco um mito”, refe-
orbiumcoelestium” (do latim “Das Revoluções das Esferas Celestes”), publicado no ano da sua
re o investigador. “Muitas pessoas mais reli- morte, foi colocado no Indexem 1616, aí permanecendo até ser retirado por Bento XIV, em 1758.
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