Obrigava-me a rastejar e dizia ‘cumpra-se, a voluntário. Não havia ninguém para apanhar um golpe terrível. Não se trata só de perder
vitória é certa!’. Foi um período muito perigo- o lixo, não havia ninguém para nada. Vinha aí o meu irmão e a minha cunhada, trata-se de
so porque já tinham começado os conflitos en- uma delegação da OUA e está tudo sujo. Para perder uma parte significativa das pessoas
tre os movimentos de libertação. Estava tudo chegar ao dia 11 nós estivemos três dias a lim- com quem eu passei a minha juventude. A
muito radicalizado, uns contra os outros”. No par e a varrer. Éramos todos muito novos e lógica deles era matar todos os universitá-
dia 11 de Novembro, quando Angola declarou era como se pudéssemos dirigir o mundo”. rios e estudantes. Os intelectuais. Mas pron-
OCHÔA
a independência, adormeceu. “Estava tão can- Voltou para Portugal e não foi apanhada to, não se vai ressuscitar ninguém”. Criou o
RUI
sada que adormeci. Fazia trabalhos menores pelo 27 de Maio, quando milhares de angola- sobrinho como um filho. esteve 20 anos
DE
não pensem que eu fazia alguma coisa de im- nos foram mortos numa violenta purga in- sem voltar a Angola. Pretende voltar.
portante. Trabalhava que nem uma maluca terna. O irmão, militante activo do MPLA e
na rádio e depois era preciso fazer trabalho a cunhada desapareceram naquele dia. “Foi CândidaAlmeidaviveuuma história de amor FOTOGRAFIAS
26 REVISTA ÚNICA·31/01/2009