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14 ECONOMIA Expresso, 31 de Janeiro de 2009
>>
Obama no fio
FILME
DA SEMANA
da navalha
Quebrasnoturismo
Contrariando a tendência de
acelerado crescimento (6% nas
chegadas internacionais) até
meados do ano passado, a Orga-
nização Mundial do Turismo
(OMT) prevê para 2009 quedas
É o primeiro livro sobre os desafios da nova de 1 a 2% no turismo a nível mun-
Administração escrito por um português.
dial.
Carlos Santos interroga-se “E agora?”
ExportaçõescaemnoG7
O volume de exportações das
A campanha eleitoral e a vitória O autor não se encara como economias do G7) EUA, Japão,
de Barack Obama trouxeram de um académico numa redoma de Alemanha, Itália, França, Reino
regresso à América a esperança vidro sentenciando a sorte do no- Unido e Canadá) caiu 0,2% no
e o voluntarismo de milhões de vo Presidente americano. Além terceiro trimestre do ano passa-
americanos. Uma mudança que das virtualidades do pacote de do face aos três meses anterio-
ocorreu no meio da ‘mãe de to- emergência de 819 mil milhões res, segundo dados revelados es-
das as crises’, uma situação de de dólares (¤623 mil milhões) ta semana pela OCDE. As impor-
que os americanos já não ti- que tem condições “de aliviar o tações cresceram 0,4%. Em ter-
nham memória desde há mais sentimento económico dos ame- mos anuais, as exportações cres-
de meio século, refere Carlos ricanos no curto prazo”, Carlos ceram 1,9% e as importações caí-
Ferreira dos Santos, de 32 anos, Santos reconhece em Obama ram 1,4%.
professor de Econometria da
Universidade Católica, no Porto. FMIcortaprevisões
A herança que Obama recebeu O Fundo Monetário Internacio-
de W. Bush é pesada — a ima- nal reviu em baixa as projecções
gem global dos Estados Unidos de crescimento e aponta agora
está no seu ponto mais baixo e para um crescimento de 0,5%
deu-se um colapso nos activos da economia mundial este ano.
das famílias americanas que, A confirmar-se, será o ritmo
num ano e meio, perderam mais lento desde a 2ª Guerra
8500 biliões de dólares no valor Mundial. Para os EUA, o FMI es-
dos imóveis, em reformas, pou- pera agora uma contracção de
panças e investimentos, ou seja, 1,6% este ano, com uma recupe-
um número brutal: 57% do PIB ração de igual dimensão em
americano. 2010. Na zona euro, a retoma se-
rá mais lenta. O Fundo aponta
O risco dos desvios
para um quebra de 2% no produ-
to interno bruto (PIB) em 2009
O tecido empresarial está a viver e um crescimento de 0,2% no
uma vaga de downsizing como já próximo ano.
não havia memória: segundo o Bu- ProfessordeEconometrianaUniversidadeCatólicaPortuguesa,noPorto,CarlosSantosdoutorou-seemOxford,Inglaterra,
reau of Labor Statistics, os EUA etrabalhounaDirecçãodeInvestigaçãodoBancoCentralEuropeu,emFrankfurt,Alemanha FOTO RUI DUARTE SILVA Brasilrestringeimportações
já perderam 2,55 milhões de em- O Governo brasileiro vai exigir
pregos desde que a crise começou uma característica essencial que o défice orçamental americano nosso interlocutor. O desafio é licença prévia de 60 para impor-
e a taxa de desemprego terá atin- vai para lá do seu “magnetismo para quase 7,5% do PIB no final que renasça da legislatura de
RECURSO AO FMI
tar produtos de 17 sectores de ac-
gido 7,2% no final de Dezembro. pessoal” — o pragmatismo na do presente ano fiscal. O depar- Obama uma economia america- tividade para tentar diminuir o
Os desafios tanto económicos execução de um intento estraté- tamento do Orçamento no Con- na “com capacidade para pagar défice da balança comercial. Es-
como internacionais da nova Ad- gico e uma certa conversão à real- gresso americano (Congressio- os encargos de um endividamen- Carlos Santos recorda que ta medida abrange cerca de dois
ministração são, por isso, ciclópi- politik. nal Budget Office) divulgou re- to brutal” e que, no entretanto, outras vias têm sido sugeridas. terços das importações do país.
cos, o que levou Carlos Santos, centemente que provavelmente continue a conseguir convencer Uma solução é reanimar o papel
um apaixonado pelo processo po-
O ponto fraco
25% das intervenções já realiza- os financiadores externos da dí- do Fundo Monetário Bancabritânicaporumfio
lítico recente dos Estados Uni- das pelo TARP serão pura perda vida pública (nomeadamente a Internacional (FMI) como A banca britânica esteve à beira
dos, a escrever “E Agora, Oba- O principal ponto fraco, por ora, para os contribuintes. China, o Japão e os detentores financiador do próprio do abismo em Outubro passado,
ma?”, que será publicado no pró- parece ser a falta de clareza em Obama respondeu com “um de petrodólares) a serem o guar- endividamento americano divulgou esta semana a impren-
ximo mês pela Esfera do Caos. como resolver a crise de crédito, programa de raiz keynesiana” — da-chuva do american way of li- gerindo os excedentes de sa do Reino Unido. O Banco de
Ele conclui — pesando os prós e pois as armas políticas da Reser- que é também a coqueluche ho- fe interno e da própria projec- liquidez existentes nalguns Inglaterra tentou evitar que os
os contras e acautelando que ha- va Federal estão esgotadas (ma- je de quase todos os governos ção externa da superpotência. países exportadores. O FMI investidores estrangeiros retiras-
verá sempre contingências e im- nipulação da taxa directora de no mundo — mas que tem dois A geopolítica é a outra face da praticamente eclipsou-se face à sem o dinheiro do Royal Bank of
previstos — que Obama defronta juros até perto dos 0%) e as in- problemas: os 825 mil milhões moeda. “Obama não controla as crise global e tem-se centrado Scotland e o Governo esteve
“uma gestão de equilíbrio, muito tervenções do Plano Paulson de dólares poderão ser apenas cartas todas do jogo”, diz o au- na intervenção em casos mesmo à beira de ter que nacio-
no fio da navalha”. Mas deixa (que dá pelo acrónimo de 40% do que é preciso, avisou o tor, nem dos mercados de com- nacionais ‘colaterais’ como a nalizar todo o sistema.
uma nota de optimismo: “Eu pen- TARP-Troubled Asset Relief Nobel Paul Krugman, e colocam modities (e o preço do petróleo Islândia, Hungria, Paquistão e
so que há um caminho em que as Program e que gastou nesta pon- uma dúvida de médio e longo se retomar uma curva ascenden- Ucrânia. Outra solução é criar Créditocainazonaeuro
políticas que o novo Presidente ta final da Administração Bush prazo. “O meu cepticismo diri- te vai estragar as contas), nem “expectativas sérias de inflação” Os empréstimos da banca às em-
quer implementar podem resul- já 50% dos 700 mil milhões de ge-se à sustentabilidade do endi- dos movimentos estratégicos que contrariem o vírus da presas na economia da zona eu-
tar”, diz-nos, logo acrescentando: dólares autorizados) só ajuda- vidamento necessário num con- das outras grandes potências. deflação, algo que também ro caíram no mês de Dezembro,
“O problema é que esse caminho ram a criar uma situação de “ar- texto em que o dólar perdeu dra- Jorge Nascimento Rodrigues consta do receituário do Nobel de acordo com dados revelados
não tolera desvios”. madilha da liquidez” e chutarão maticamente valor”, sublinha o jnrodrigues@expresso.impresa.pt Paul Krugman. pelo Banco Central Europeu.
Empate entre Washington e Davos sobre a crise global
Os republicanos disseram cou claro que a Reserva Federal ao fim e ao cabo, vivem dos chi- FOMC e as garantias da Fede-
não a Obama e a Reserva esgotou o seu arsenal de ‘armas neses comprarem fielmente os ral Deposit Insurance Corp
Federal prepara armas ‘não convencionais’ e Obama não títulos do Tesouro do Tio Sam. (FDIC) somaram em 2008 um
convencionais’. Na Suíça, conseguiu um único voto repu- Neste empate entre Washing- montante de 8,5 biliões de dó-
Wen Jiabao foi a vedeta blicano na Câmara. ton e os novos senhores de Da- lares (¤6500 mil milhões), qua-
vos, a crise continuou com o se 60% do produto interno bru-
Ainda não foi esta semana que
As vedetas alpinas
seu rol de desgraças. Quase to (PIB) americano.
a ‘bomba nuclear’ dizimou a cri- 100 mil novos despedimentos Contudo, o crédito continuou
se. A reunião do comité dos do- Entretanto, na cidade alpina suí- numa só semana em nomes so- a não chegar à economia real e a
ze da política monetária da Re- ça de Davos, no Fórum Econó- nantes de multinacionais. Sou- ameaça dos activos tóxicos per-
serva Federal norte-americana mico Mundial, o primeiro-minis- be-se, agora, que, em 2008, o manece — ao fim e ao cabo os
(FOMC, acrónimo para Fede- tro da China, Wen Jiabao, foi a rombo nos fundos de pensões problemas que provocaram a
ral Open Market Committee) principal vedeta para os 2500 empresariais foi de 5 biliões de crise desde meados de 2007.
decidiu manter as taxas de juro participantes e o líder russo Vla- dólares (¤3800 mil milhões) só Um custo inglório que implicou
no nível próximo de zero em dimir Putin exigiu a saída da de- nos EUA, Japão, Reino Unido e que a dívida do Tesouro america-
que já estavam. Entretanto, a pendência do dólar e a criação Holanda. no ascendesse a 5,5 biliões de dó-
nova Administração Obama de um novo sistema diversifica- lares (¤4200 mil milhões), qua- BenBernankeguardouparaapróximavezousodaarma
conseguiu aprovar na Câmara do de divisas. O investidor Geor-
Milhões sem efeito
se 40% do PIB do país. E, segun- nuclear.Oquepoderágerarumatentaçãodenova‘bolha’
de Representantes um primei- ge Soros acusou o sistema finan- do a Goldman Sachs, com as in-
ro pacote de ‘salvação nacional’ ceiro de ser disfuncional e pug- A Reserva Federal parece que- tervenções adicionais ainda du- milhões de dólares (¤380 mil mi- vez, todo o lixo tóxico existente
de 819 mil milhões de dólares nou por um totalmente novo. rer passar, agora, ao recurso rante este ano fiscal, poderão so- lhões) para evitar que a actual nas contas do sistema bancário
(¤623 mil milhões), que seguiu Jiabao acenou à fina-flor da às armas ‘não convencionais’ mar-se mais 2,5 biliões (¤1900 situação se deteriore. — o mercado já o baptizou de
agora para discussão no Sena- globalização com o seu progra- para atacar a crise de crédito mil milhões). bad bank. A ideia concorre com
do norte-americano. ma de investimentos públicos que subsiste. A manipulação Um relatório divulgado esta se-
Armas nucleares
outra mais extravagante, a de
Foi a primeira reunião do de 440 mil milhões de dólares das taxas de juro chegou, de mana pelo Fundo Monetário In- nacionalizar todo o sistema ban-
FOMC presidida por Ben Ber- (¤334 mil milhões) e zangou-se facto, ao limite, estando numa ternacional (Global Financial Os rumores em Washington cário, e com a reclamação por
nanke no período de coabitação com as acusações de manipula- banda entre 0% e 0,25%. O Pla- Stability Report) revela que, pa- apontam para que alguma arma muitos analistas anti-interven-
com o novo Presidente, que irá ção cambial (mantendo o yuan no Paulson (conhecido por ra 2009 e 2010, só o sistema nuclear seja usada a breve tre- cionistas de se deixar cair o que
durar até 2010, quando o chefe artificialmente subvalorizado) TARP), as intervenções direc- bancário americano vai necessi- cho. Fala-se da criação de um está podre, de se deixar de injec-
da Fed terminará o mandato. Fi- por parte dos americanos que, tas no mercado por parte do tar de pelo menos mais 500 mil banco público para recolher, de tar mais ‘morfina’ e permitir
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