CORAGEM
JUSTIÇA
Quatromulherescoordenamasinvestigaçõesjudiciais
maisimportantesemPortugal.Sãopessoasinvulgares,
comdefeitosevirtudeseumavidaquevaleapenaconhecer
TEXTOSDERUIGUSTAVOECÂNDIDAPINTO
ó quando acabou o curso é
S
que percebeu: era mulher,
não podia ser magistrada.
Era a lei antes do 25 de
Abril. “Andava um bocado
distraída da política. Que-
ria entrar para a magistra-
tura porque gostava da sé-
rie do Perry Mason. Ele defendia sempre acu-
sados inocentes e eu achei que gostava de
fazer isso”. Não se atrapalhou e foi pedir ex-
plicações ao então procurador-geral da Repú-
blica, Furtado dos Santos. “Fiquei tão furio-
sa que pedi para falar com o senhor e ele
recebeu-me. Foi muito simpático. Disse-me
que concordava comigo, que não via razão
para as mulheres não serem magistradas e
que, mais dia, menos dia, as coisas iriam mu-
dar. Mas o ministro da altura, Almeida e Cos-
ta, defendia que as mulheres não tinham sen-
sibilidade para julgar”.
Passou um ano e o 25 de Abril acabou com
a proibição, que se estendia também à carrei-
ra diplomática ou à administração local. “Vol-
tei a pegar no papelinho a requerer uma co-
marca e, quando ia entregá-lo, a secretária
disse-me: o senhor procurador está à sua es-
pera. Julguei que me ia dizer outra vez que
não podia entrar, mas lembrava-se de mim,
disse que estava à minha espera e ajudou-me
a preencher os papéis. Fiquei em Grândola”.
Cândida Almeida tinha 26 anos e foi a pri-
meira mulher portuguesa a entrar para a
FRANCISCA VAN DUNEM COM OS IRMÃOS, NUMA FOTO
TIRADA EM ANGOLA. FRANCISCA É A QUE ESTÁ AO CEN-
TRO, A OLHAR PARA O FOTÓGRAFO.
HORTÊNSIA CALÇADA QUANDO ERA ADOLESCENTE E
FAZIA PARTE DO RANCHO FOLCLÓRICO DE MOREIRA DA
MAIA. AQUI ESTAVA EM DIGRESSÃO, EM ÉVORA
MARIA JOSÉ MORGADO IRRECONHECÍVEL SEM MAQUI-
LHAGEM, NOS TEMPOS DO MAOíSMO
CÂNDIDA ALMEIDA COM A FILHA CRISTINA. TINHA ACABA-
DO DE SE TORNAR A PRIMEIRA MAGISTRADA DO PAÍS
19