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“COMPREI HOJE o seu livro. Tam-
bém comprei o livro do seu papá.” A impro-
vável revelação foi ouvida por Martin Amis
em 1984. Kingsley Amis, ao saber da histó-
ria, reagiu com lacónico entusiasmo: “É a
única vez que essa frase será proferida na
história da Humanidade.”
A resposta encerra se não um facto esta-
tístico pelo menos uma verdade intuitiva.
As dinastias literárias não são raras, mas
a transferência de talento costuma ser
marcada por supressões e encolhimentos.
Há abismos qualitativos mais ou menos
consensuais entre Dumas Pai e Dumas Fi-
lho, entre Thomas e Klaus Mann, entre
Evelyn e Auberon Waugh, entre Sophia e
o “Equador”. Como demonstraram márti-
res de outros calvários (Jakob Dylan, Jor-
di Cruyff), laborar à sombra de um ante-
passado ilustre eleva fasquias impossíveis:
KINGSLEYAMIS
a jogar xadrez com
os filhos Martin e Philip
numa fotografia de 1961
Expresso 31 Janeiro 2009 13