(Estratosfera), que se propõe ir até à segun-
da camada da atmosfera num balão a hélio e
depois cair, em queda livre, os mesmos
120.000 pés (36.500 metros) por ali abai-
xo... Aquilo que levará a Mário duas horas e
meia a subir levará singelos cinco minutos e
meio a descer — só que a uma velocidade
superior a 1500 km/hora. Se tudo correr co-
mo previsto, o tricampeão nacional de que-
da livre quebrará cinco recordes mundiais
(altitude em voo de balão tripulado, altitude
em salto de queda livre, maior distância per-
corrida em queda livre e mais longa queda
livre realizada, e recorde de velocidade alcan-
çada, ultrapassando a barreira do som), com
direito a inscrição no “Guinness” e tudo.
Há riscos óbvios, inerentes. Um deles é
“entrar em spin”, ou seja, perder a estabilida-
de e vir por aí abaixo em círculos — “o que
aconteceu a Kittinger”. Safou-o um drogue,
espécie de pára-quedas de emergência pensa-
do para dar estabilidade em objectos a altas
velocidades. Mas Mário acredita que, com
mais de 4000 saltos na bagagem e a sua ex-
periência de pára-quedista, isso não vai acon-
tecer — embora esteja previsto levar um dro-
gue para activar em caso de emergência. Ou-
tro risco passa pela fragilidade do material
do balão estratosférico, que tem a textura de
“um saco de plástico muito fininho” e facil-
mente se pode danificar na descolagem.
Apesar de parecer uma ideia meio louca, o
projecto “Estratosfera” tem uma sólida equi-
pa científica por trás. A Universidade do Porto
tornou-se parceira. Sérgio Reis Cunha, da Fa-
culdade de Engenharia, assume a direcção téc-
nica — o engenheiro electrotécnico coordena
um programa de lançamento de balões estra-
tosféricos em parceria com a Agência Espacial
Europeia. Paulo Afonso, mestre em Astrofísi-
ca e doutorando no Instituto Max Planck de
Física Extraterrestre, em Munique, é consul-
tor científico; e o director de voo é Alan Noble,
o homem do leme da Cameron Balloons, o
maior fabricante de balões do mundo, que se-
rá responsável pela criação do balão a hélio e
também pelo fato. E contam ainda, como con-
sultor técnico, com Andy Elson, responsável
pela volta ao Mundo em balão da Breitling em
1993 — e o homem que mais vezes esteve aci-
ma dos 40.000 pés (12.200 metros).
O balão terá uma altura de 100 metros (o
equivalente a um prédio de 30 andares), subi-
rá à velocidade de 1000 pés (304 metros) por
minuto e levará uma gôndola, não pressuriza-
da, para ser mais leve. “O fato não é igual a
um fato espacial, porque tem de permitir
mais mobilidade”, nomeadamente para ma-
nobrar o pára-quedas depois de aberto, expli-
ca Mário. Terá de ser térmico e pressurizado,
para fazer face à pressão e à temperatura,
FIGUEIREDO
que a partir dos 30.000 pés (9.100 metros)
J
AIME
E baixa para os - 60 graus Celsius, podendo ir
D
até aos -100. Esta tecnologia não existe em
Portugal — pelo que o local da descolagem
INFOGRAFIA está em aberto, dependendo do patrocina-
32 REVISTA ÚNICA·31/01/2009