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06 ECONOMIA Expresso, 31 de Janeiro de 2009
EMPRESAS
Carlos de Melo Ribeiro presidente da Siemens Portugal
“O destino deu-nos um golpe de sorte”
Apesar dos efeitos adversos da crise fi-
nanceira internacional, a Siemens regis-
tou em 2008 “um dos melhores anos
de sempre” em Portugal, afirma Carlos
FORMADO PARA LIDERAR
Melo Ribeiro, administrador-delegado
e presidente do grupo em Portugal.
Carlos de Melo Ribeiro, 55 anos, está
Como é que a Siemens está a enfren- à frente da Siemens Portugal há cerca
tar a crise? de 14 anos. Foi nomeado
Desde o ano passado, a Siemens co- administrador-delegado da empresa,
meçou a preparar-se a nível mundial, em Abril de 1995, sucedendo
com a redução de custos centrais. Em a Wolfgang Bülher, considerado
Portugal, conseguimos ter um dos me- o grande impulsionador da Siemens
lhores anos de sempre. Subimos as en- em Portugal. Licenciado em Economia
comendas em 74,7% (¤760,6 milhões) e em Gestão e Administração
e os resultados líquidos em 15,2% de Empresas, com um MBA
(¤44,7 milhões). Tivemos vendas de do Boston College, Melo Ribeiro
¤437,4 milhões, sensivelmente o mes- começou a sua carreira, em 1982,
mo do ano anterior, com mais 5,1% (a na Texas Instruments, em Dallas
facturação exclusiva de Portugal). En- e no Porto. Ingressou na Siemens
trámos para o ano da crise de 2009 em 1984, onde assumiu diversas
com uma situação muito boa e a Sie- responsabilidades nos campos
mens a nível mundial, num cenário mui- do marketing, finanças e direcção-geral
to parecido. industrial, em Portugal, Áustria
e Alemanha. De uma empresa baseada
Quais são os principais sectores? na indústria, liderou a visão estratégica
A nossa grande base é a energia. A que transformou a Siemens numa
Siemens reorganizou-se em três secto- organização inovadora, com diversos
res: energia, indústria (integra infra-es- centros de competência mundial,
truturas, automação e mobilidade) e um forte investimento em investigação
saúde, onde somos agora o maior gru- e desenvolvimento e uma bem
po a nível mundial. Comprámos três sucedida aposta na alta tecnologia,
empresas de diagnósticos in vitro, por- serviços e software. A sua equipa
que esta será uma das áreas principais obteve os mais altos reconhecimentos
no campo da medicina. A Siemens fez a dentro do grupo, que elegeu Portugal
redução do seu portefólio e o destino como a melhor região em 2003, em
deu-nos um golpe de sorte. Houve um função dos resultados consistentes no
movimento de concentração, reduzin- mercado eléctrico e electrónico.
do as 16 divisões que existiam e poupan-
do nos custos centrais. Além disso, jun-
taram-se os países em clusters para ga-
nhar sinergias. Estamos num cluster
com sete países: Suíça, Grécia, Itália,
‘‘
França, Bélgica, Espanha e Portugal. Temos capacidade e convencemos
os outros países de que podíamos
Qual o peso destas três áreas nas en- fazer coisas a nível central que lhes
comendas da Siemens Portugal? reduziam custos. Transferimos
A energia, com ¤350 milhões (mais para aqui dois ou três centros,
de 50%), a indústria com quase ¤200 um deles na área financeira. Fomos
milhões e a saúde com ¤210 milhões. a tudo onde conseguimos reduzir
A nova grande área é a energia, com o custos à companhia e trazer
contrato de ¤600 milhões da central competências para Portugal
do Pego (¤400 milhões de obra e
¤200 milhões de manutenção ao lon-
go de 25 anos).
Qualquer TGV, aeroporto ou
grande projecto nacional não devia
Como encara o desenvolvimento des-
ser tema de eleições. É um dos
ta crise económica e financeira?
sinais de evolução política de um
Toda esta estratégia da Siemens Por-
país. Não nos podemos dar ao luxo
tugal é muito activa. Não é esperar e
de ficar de fora das grandes
depois reagir quando vem alguma difi-
ligações internacionais
culdade. É antecipar as dificuldades e
agir. Fizemos um bom trabalho na re- Somos os mais bem colocados para
dução de custos, porque reagimos pri- dar contrapartidas. Estamos
meiro. ligados a isso. Fomos das primeiras
empresas a trazer bom senso às
Como se reflectiu em Portugal essa comissões de contrapartidas
redução? “Fizemosumbomtrabalhonareduçãodecustos,porquereagimosprimeiro”,afirmaMeloRibeiro FOTO ALBERTO FRIAS
Apesar da redução de 17 mil pessoas
da Siemens a nível mundial, em Portugal petências para Portugal. Foi sempre as- energia, com 30 engenheiros; manu- são. Por isso, não vou fazer previsões. A mercado volátil. Os investimentos são
passámos a ter mais 200 a 300. Ou seja, sim que fizemos nas telecomunicações e, tenção e montagem de equipamentos nossa expectativa é que seja um bom enormes e a Siemens não tinha uma
a redução era de 30% nos custos centrais a seguir, na área da medicina. de alta tensão; e terminais temporários ano e até tenha um aumento de pes- organização para isso. São das melho-
até 2010, mas pelo facto de termos capa- de aeroportos). soal. A energia e as infra-estruturas são res fábricas no mundo, quer na Ale-
cidade, convencemos outros países de Quais são os outros centros de desen- uma aposta mundial. manha quer em Portugal e ninguém
que poderíamos centralizar operações volvimento da Siemens em Portugal? Quantas pessoas trabalham na em- discute a sua capacidade e eficiência.
em Portugal, reduzindo-lhes custos e Estamos a começar com um centro presa? Como vê a crise que está a afectar a O futuro passa por associações e jun-
transferimos para aqui dois ou três cen- na área da energia, onde já temos algu- Cerca de duas mil. Qimonda, que já foi uma empresa da ções. Se a Qimonda e a Infineon tive-
tros. Num deles, na área financeira, já te- mas capacidades; na indústria há já Siemens? rem sorte conseguirão encontrar um
mos cerca de 100 pessoas e vamos ter três ou quatro centros de engenharia e Qual será a evolução da Siemens nos Quando a colocou à venda na Bolsa, parceiro e aguentar esta fase.
mais. Fomos a tudo onde conseguimos software (comando e controlo de siste- sectores onde marca presença? a Siemens sabia que era uma indús- Alexandre Coutinho
reduzir custos à companhia e trazer com- mas de transporte e distribuição de Todos os meses fazemos uma revi- tria de muito capital intensivo e um acoutinho@expresso.impresa.pt
Siemens disponível para dar contrapartidas
Pioneira na implementação de contra- na e na Rússia. Além de ser o mais boni- riscava pura e simplesmente o TGV? Eu acho que vai para a frente. É um possível, porque somos os mais bem
partidas em Portugal, a Siemens mos- to no mercado… Agora, de maneira ne- Não posso de maneira nenhuma me- dos projectos que vai avançar, com este colocados para dar contrapartidas.
tra-se disponível para repetir o caso de nhuma a Siemens se vai pôr na discus- ter-me no meio disso, principalmente ou outro Governo. E nós vamos lá estar Estamos intimamente ligados a isso.
sucesso nas telecomunicações, se ga- são política, porque cabe às autorida- num ano de eleições. O que eu acho é e seremos um player importante. Esta- Fomos das primeiras empresas a tra-
nhar o concurso para o TGV. des decidir ou não se querem este pro- que qualquer TGV, aeroporto ou gran- mos em conversas com um dos grandes zer bom senso às comissões de contra-
jecto de alta velocidade, como outros, de projecto nacional não devia ser te- consórcios para fornecer um conjunto partidas. É muito difícil implementar
No domínio das grandes infra-estru- como o aeroporto, dez barragens e ma de eleições. É um dos sinais de evo- de soluções: automação de bagagens, contrapartidas a longo prazo, mu-
turas, o TGV é um dos concursos mais uma ou outra estrada. Posso dizer que lução política de um país. Não nos pode- infra-estrutura dos edifícios, parte eléc- dam as pessoas, mudam os governos,
ambicionados pela Siemens? temos o melhor produto, estamos num mos dar ao luxo de ficar de fora das trica, iluminação das pistas, etc. mudam as empresas… mas dou-lhe
Somos um dos líderes mundiais, in- bom consórcio e vamos participar. grandes ligações internacionais. um exemplo: os mil e tal engenheiros
ventámos a tracção descentralizada O TGV e novo aeroporto são susceptí- de telecomunicações que temos nas-
que torna os comboios mais eficientes Mas teve um sobressalto quando ou- O concurso do aeroporto está mais veis de poder gerar contrapartidas? ceram de uma contrapartida das cen-
e temos dois grandes contratos na Chi- viu Manuela Ferreira Leite dizer que atrasado? Que consórcio vão integrar? É um bom tema para nós. O mais trais digitais de 1987.
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