kaiser chiefs
EM AGOSTO DE 2005, os ingle- A BRITPOP DOS KAISER CHIEFS GANHOU
ses Kaiser Chiefs estacionaram em Portu-
gal. No espaço de três dias, abriram para
AMBIÇÃO COM O NOVO ÁLBUM “OFF WITH THEIR
os U2 no Estádio de Alvalade, em Lisboa,
e subiram até ao Festival de Paredes de
HEADS” — E PARTE DA CULPA É DO PRODUTOR
Coura. Na noite minhota, o vocalista
Ricky Wilson provou, com excesso de zelo
DE AMY WINEHOUSE. ESTE FIM-DE-SEMANA,
acidental, que o quinteto leva bastante a
sério o divertimento deles próprios e da
ELES TRAZEM A FESTA DO PROLETARIADO
plateia: aos primeiros instantes da actua-
ção, um pulo mal medido de Wilson resul-
AOS COLISEUS DO PORTO E LISBOA
tou num tornozelo espatifado, mas o ho- Texto de Jorge Manuel Lopes
mem que por essa altura era conhecido
como a voz do hino indie ‘I Predict a Riot’
mal pestanejou, adoptando o suporte do
microfone como bengala para o serão.
“Os médicos portugueses foram muito
amáveis comigo, trataram-me optimamen-
te”, recorda o líder dos Kaiser Chiefs.
Será que, quatro anos depois, às portas
de mais dois concertos em Portugal, Ricky
Wilson ainda arrisca o físico em prol da
intensidade de um espectáculo de rock?
“Não, hoje em dia passo os concertos sen-
tado numa cadeira de braços. Quase não
me mexo e praticamente não digo uma pa-
lavra, enquanto o resto da banda toca
uma espécie de música industrial.” É bom
de ver que ele está a brincar... “Continuo a
comportar-me dessa maneira em palco,
porque é também isso que gosto de ver
num concerto. Gosto de concertos de
rock’n’roll, gosto de ver bandas que sen-
tem prazer em estar ali a tocar. Nós conti-
nuamos a atirar-nos de cabeça para cada
concerto que realizamos.”
Em 2008, os Kaiser Chiefs lançaram
duas mãos-cheias de canções que devem
ajudar à manutenção desse prazer. “Off
With Their Heads”, o terceiro álbum, não
só espelha um refinamento significativo
no jeito do grupo para compor melodias
fortes como expande o seu catálogo de re-
cursos estilísticos para deixar entrar mais
malícia pop e, sobretudo, um sentido rít-
mico cuja elasticidade anda pela vizinhan-
ça do funk. Se até agora o núcleo das suas
composições evocava em partes iguais os
Jam, o eixo The Smiths-Morrissey e o la-
do mais monolítico e proletário da brit-
pop (é lembrar os seus temas mais conhe-
cidos, de ‘I Predict a Riot’ a ‘Everyday I
Love You Less and Less’ e ‘Ruby’), já em
“Off With Their Heads” a aproximação à
britpop é feita mais pelo lado da imagina-
ção simultaneamente luxuriante, paro-
quial e multicolor que os Blur usaram na
década de 1990. Aliás, o apreço dos Kai-
ser Chiefs pela banda de Damon Albarn é
coisa forte e expressa às abertas: em De-
zembro último, eles anunciavam nas pági-
nas da revista “NME” a sua disponibilida- ABANDAINGLESA continua
de para actuar no aguardado concerto de a atirar-se de cabeça para
reunião da formação clássica dos Blur, a 3 cada concerto que realiza
16 31 Janeiro 2009 Expresso