PÁRA-QUEDISTA DESDE
OS 20 ANOS, MÁRIO
PARDO CONTA MAIS DE
4000 SALTOS NO CURRÍ-
CULO. TRICAMPEÃO DE
QUEDA LIVRE, É BASE
JUMPERDESDE 2000. JÁ
SALTOU DE TODO O LADO:
AQUEDUTO DAS ÁGUAS
LIVRES, CABO GIRÃO,
CAMIÕES EM ANDAMEN-
TO... NA ÚLTIMA FOTO, A
TREINAR NO TÚNEL DE
VENTO EM INGLATERRA
dor. “Pode ser no Brasil, na Índia, nos EUA, ra), “uma turbina que lança ar a uma velocida-
no Novo México...”, avança Mário, esclarecen- de semelhante à da queda livre…” Além disso,
do que “a única condição para a aterragem é Mário está habituado a uma actividade física
que seja no deserto, por motivos de terreno”. intensa. Diariamente, faz duas a três horas de
treino aeróbico, ioga e meditação. Facetas do
O pára-quedista levará oxigénio e, antes da trabalho da mente, cuja performance é funda-
subida, terá de fazer uma desnitrogenização, mental. E que reflecte outra faceta da sua vida:
consumindo oxigénio puro, sem azoto, para a de psicoterapeuta. O curso de terapeuta em
eliminar o risco de descompressão. Além dis- comportamentos aditivos foi tirado em Lon-
to, leva também uma parafernália de equipa- dres, aos 30 anos, depois de uma “fase difícil”.
mento: vários GPS, para calcular posição e ve- Para Mário, o mais importante neste pro-
locidade; sensores de pressão atmosférica, de jecto é concretizar o sonho de criança — e
temperatura e de parâmetros biomédicos, “passar a mensagem de que é possível”. “Os
que darão indicações à equipa médica cá em limites somos nós que os impomos a nós pró-
baixo sobre a sua condição física; rádios ade- prios. Mas foram feitos para ser ultrapassa-
quados para transmissão de dados de navega-
ção e telemetria; e câmaras de filmar que “À medida que
dos. Costumo dizer que não ultrapasso os
meus medos — empurro-os. Vou empurran-
transmitirão, em tempo real, imagens de tudo
o que se passa na ascensão e queda. aprendes a lidar
do os meus medos sempre para mais além.
Gosto de os enfrentar, porque sei que são o
Ainda não há data para a grande aventura
(que depende essencialmente de arranjar pa- com o teu medo,
que mais nos limita. Passei muito tempo a
lutar contra eles. E querer lutar contra os
trocinadores, já que o projecto ascende a qua-
tro milhões de euros…), mas do treino do atle- passas a olhá-lo
medos é uma batalha perdida — a partir do
momento em que os aceitas, eles tornam-se
ta fazem já parte muitas horas na câmara hipo-
bárica da Força Aérea, onde se simula a baixa como um velho
mais pequenos. À medida que aprendes a li-
dar com ele, passas a vê-lo de forma diferen-
pressão atmosférica da estratosfera, e outras
tantas no túnel de vento de Bedford (Inglater- amigo”
te. Quase como um velho amigo.” O seu úni-
co limite? “Não magoar os outros.” n
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