Page 179 of 260
Previous Page     Next Page        Smaller fonts | Larger fonts     Go back to the flash version
que é o amor? Será, como e autor britânico Benjamin Disraeli. sexuais, somos máquinas reprodutoras,
O
escreveu Stendhal, o “milagre “O amor é o princípio da existência e o seu diz-nos Fisher. O amor é apenas um meio
da civilização”? Será mais arte único fim”. para um fim muito mais nobre: a sobrevi-
que sentimento, como defen- vência da raça humana.
deu Paul Morand? Ou será, Mas,afinal, o que define o amor? A antropó- Esqueça, pois, os chocolates Godiva, as
afinal, “algo que não se define”, antes se loga norte-americana Helen Fisher, autora trufas, os diamantes e o champanhe caro.
sente (Séneca, pensador romano)? de “Porque Amamos — A Natureza Química A poção do amor não pode ser comprada
O debate é provavelmente tão antigo do Amor Romântico” (Relógio D’Água, nem mesmo na melhor loja gourmet.
quanto as inquietações sobre as origens do 2008), tem vindo a dedicar a sua carreira a A primeira boa notícia é que existe dentro
Homem. Ao longo da História, vários têm decifrar esse enigma. A resposta, defende na de cada um de nós. Basta encontrar a pes-
sido os poetas, escritores e artistas que, obra, é menos romântica e mais previsível do soa certa para a activar. A segunda é que a
cantando as virtudes do amor, têm contri- que se esperava. O amor é... química, senten- ciência pode ajudar-nos a consegui-lo mais
buído para a compreensão deste fenómeno cia friamente. Uma alquimia complexa que eficazmente. Na sua última obra, “Why
transcendente e antagónico: tanto é capaz envolve duas hormonas sexuais, a testostero- Him? Why Her?” (Porquê Ele? Porquê Ela?,
de iluminar-nos a alma e encher-nos de na e o estrogénio, e dois neurotransmissores, numa tradução literal), acabada de publicar
vida como, num ápice, rasgar-nos o coração a dopamina e a serotonina. A ciência, afinal, nos Estados Unidos, Fisher recorre ao seu
e apagar qualquer centelha de esperança. apenas confirma o senso comum. Quantos de conhecimento sobre a acção da testostero-
“Nascemos para amar”, escreveu o político nós já não nos escudamos na “química” para na, do estrogénio, da dopamina e da seroto-
explicar aquele magnetismo incontrolável, nina para traçar quatro tipos de personali-
o desejo irrefreável, a vertigem sentimental dade distintas e explicar a sua influência
que nos liga a alguém? Química portanto, nas relações românticas. Porque se as rela-
não simbólica mas literal. ções duradouras dependem mais do estatu-
A visão fica a dever muito ao romantis- to e da história de vida em comum, é a
mo, mas Fisher vai mais longe. A professo- compatibilidade entre personalidades que
ra de Antropologia da Universidade de soltará as faíscas no primeiro encontro.
Rutgers socorre-se de Darwin para explicar
que o amor, mais do que um sentimento Associadosa elevados níveis de estrogénio,
nobre e transcendental, tem um papel os Negociadores são introspectivos e analíti-
evolutivo: existe para permitir a reprodu- cos, revelando grande habilidade para lidar
ção da espécie. E ainda que, como animais com as pessoas. Cheios de testosterona, os
sexuais que somos, não precisemos de amar Directores são bastante competitivos, ambi-
para nos envolvermos sexualmente, todos cionando desempenhar papéis de liderança.
procuramos a pessoa ideal para assentar Sob a influência da serotonina, os Constru-
e constituir família. Mais do que máquinas tores são os pais de família dos subúrbios,
populares entre colegas e amigos, e pilares
das suas comunidades. Por fim, os Explora-
dores, afectados por uma elevada acção da
dopamina, são criativos e energéticos, não
As três fases
dispensando uma boa aventura.
As características de cada um dos tipos de
do amor personalidade ajudam a explicar a sua compa-
tibilidade. Construtores e Exploradores ten-
Desejo sexual
dem a procurar parceiros com o mesmo tipo
É a fase da luxúria, do impulso sexual
de personalidade. Os primeiros porque sendo
indiscriminado desencadeado pelas nos- tão tradicionais — “são os casamentos de 50
sas hormonas sexuais, a testosterona nos
anos, com cinco filhos”, ilustra a autora —
homens e o estrogénio nas mulheres.
dificilmente conseguem tolerar outro tipo.
Amor Romântico
É a fase da atracção sexual selectiva, do
Mais curiosa, sobretudo de um ponto de visto
enamoramento e da paixão. É quando
evolutivo, é a atracção entre Exploradores.
perdemos o apetite, a concentração, o
Quem vai tomar conta das crianças quando
sono e a razão. É quando o coração bate
ambos estiverem a subir ao Evereste ou no
mais depressa, as mãos ficam suadas e a
respiração parece falhar. A passagem da
bar a tomar drogas?, interroga-se Fisher. Já
fase do desejo para a do amor é controla- Negociadores e Directores completam-se:
da pela feniletilamina, uma molécula
precisam das características uns dos outros.
natural semelhante às anfetaminas. Há
uma descarga de dopamina e norepinefri-
“Tudo o que fazemos tem um componen-
na, duas substâncias associadas aos te químico”, explica Fisher ao Expresso.
centros de prazer no cérebro. São, na
Conhecer a receita não destrói, contudo ,
prática, estimulantes naturais do cérebro.
o romantismo, garante a antropóloga. “Pode-
Fase de ligação
É a fase do compromisso, do amor madu-
mos conhecer todos os ingredientes químicos
ro, da estabilidade emocional. Aqui en-
de um bolo de chocolate ou de uma cerveja
tram em acção sobretudo duas hormonas:
e ainda assim desfrutar do prazer de consu-
a oxitocina, libertada durante o sexo e
mi-los.” Nisto do amor, o melhor é deixar
conhecida como a “hormona do carinho”
VMI
ou “do abraço”; e a vasopressina, tida
espaço para o acaso. É que o coração tem
como a hormona da fidelidade. caminhos que a própria razão desconhece. n CORBIS/
59
Previous arrowPrevious Page     Next PageNext arrow        Smaller fonts | Larger fonts     Go back to the flash version
1  |  2  |  3  |  4  |  5  |  6  |  7  |  8  |  9  |  10  |  11  |  12  |  13  |  14  |  15  |  16  |  17  |  18  |  19  |  20  |  21  |  22  |  23  |  24  |  25  |  26  |  27  |  28  |  29  |  30  |  31  |  32  |  33  |  34  |  35  |  36  |  37  |  38  |  39  |  40  |  41  |  42  |  43  |  44  |  45  |  46  |  47  |  48  |  49  |  50  |  51  |  52  |  53  |  54  |  55  |  56  |  57  |  58  |  59  |  60  |  61  |  62  |  63  |  64  |  65  |  66  |  67  |  68  |  69  |  70  |  71  |  72  |  73  |  74  |  75  |  76  |  77  |  78  |  79  |  80  |  81  |  82  |  83  |  84  |  85  |  86  |  87  |  88  |  89  |  90  |  91  |  92  |  93  |  94  |  95  |  96  |  97  |  98  |  99  |  100  |  101  |  102  |  103  |  104  |  105  |  106  |  107  |  108  |  109  |  110  |  111  |  112  |  113  |  114  |  115  |  116  |  117  |  118  |  119  |  120  |  121  |  122  |  123  |  124  |  125  |  126  |  127  |  128  |  129  |  130  |  131  |  132  |  133  |  134  |  135  |  136  |  137  |  138  |  139  |  140  |  141  |  142  |  143  |  144  |  145  |  146  |  147  |  148  |  149  |  150  |  151  |  152  |  153  |  154  |  155  |  156  |  157  |  158  |  159  |  160  |  161  |  162  |  163  |  164  |  165  |  166  |  167  |  168  |  169  |  170  |  171  |  172  |  173  |  174  |  175  |  176  |  177  |  178  |  179  |  180  |  181  |  182  |  183  |  184  |  185  |  186  |  187  |  188  |  189  |  190  |  191  |  192  |  193  |  194  |  195  |  196  |  197  |  198  |  199  |  200  |  201  |  202  |  203  |  204  |  205  |  206  |  207  |  208  |  209  |  210  |  211  |  212  |  213  |  214  |  215  |  216  |  217  |  218  |  219  |  220  |  221  |  222  |  223  |  224  |  225  |  226  |  227  |  228  |  229  |  230  |  231  |  232  |  233  |  234  |  235  |  236  |  237  |  238  |  239  |  240  |  241  |  242  |  243  |  244  |  245  |  246  |  247  |  248  |  249  |  250  |  251  |  252  |  253  |  254  |  255  |  256  |  257  |  258  |  259  |  260