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do Maradona, e não estamos seguros de ce transformar-se num show biz emotivo e FIFA considera esse o “golo do século”. A
que a primeira, a de futebolista, seja a mais encantado, e perante isto não há filme que Argentina acabaria por vencer o campeona-
intensa. Nos estádios, ele foi e ainda é um seja mais intenso. Kusturica sentiu-o quan- to, velho sonho que Diego tinha desde
herói do povo. Na sua vida activa, aberta- do disse: “Diego ora é um Falstaff, ora pare- criança, mas aquele jogo dos quartos ficou
mente política, é um revolucionário, com a ce a personagem de uma publicidade a es- histórico e representou muito mais do que
chama inflamada e roja dos anos 60, com parguete. Se Andy Warhol vivesse no nos- uma vitória desportiva. “Depois de ter mar-
uma enorme tatuagem de Che no ombro, a so tempo, não teria pintado Marilyn Mon- cado o golo com a mão”, afirma Diego para
dizer o que pensa, atacando com extrema roe, mas Diego Armando Maradona!” a câmara de Kusturica, “tive a impressão
violência e sem decoro as mais altas perso- De todos os momentos em que “El Pibe de de ter roubado a carteira a um inglês!” É
nalidades do mundo, com uma especial pre- Oro” brilhou, de todos aqueles golos no Bo- óbvio que todo o Maradona está aqui, não
dilecção por George W. Bush. Maradona ca, no Barcelona e, mais tarde, no seu super só o jogador mas o homem político e revolu-
sabe o que o seu nome representa, e fazer Nápoles, que dominou o calcio nos anos 80, cionário que, naquele instante, ‘vingava’ a
um filme sobre esta figura é como esbarrar de todos os seus encontros bombásticos derrota argentina na Guerra das Malvinas
num manancial de ideias em que é difícil com o Papa, com Fidel Castro ou, recente- às mãos da Inglaterra de Thatcher.
distinguir o homem da lenda. Há também mente, com Hugo Chávez e de tantos escân- “Maradona” é, por tudo isto, um filme de
o lado mais negro da sua vida, ligado a um dalos ligados ao consumo de drogas duras, febre. Um biopic que, perante o poço de
‘folhetim cocaína’ que se arrastou anos e se nos pedissem para escolher apenas um,
Maradona
força do seu homenageado, apresenta-se
anos e em que Diego deixou meia Argenti- guardaríamos o que se passou naquela tar- como uma estranha peça polifónica, irregu-
na a rezar por ele, com o coração nas de de Junho de 1986, no Campeonato do é uma espécie lar mas sempre intensa, condensando em
mãos: neste caso, Maradona parece uma Mundo de Futebol, no México. A Argentina
personagem de melodrama, uma espécie derrota a Inglaterra, por 2-1, nos quartos de
de santo que
hora e meia as facetas de um homem que,
afinal, é uma personagem de ficção inesgo-
de santo que foi ao inferno e voltou para final. Maradona ‘bisa’, primeiro com a fa-
foi ao inferno
tável. Maradona continua a ser essa perso-
contar o que viu. Mas há mais: o Maradona mosa “mão de Deus”, depois com um “bar- nagem. Já o era quando jogava com aquela
apresentador de televisão nas competições rilete cósmico” (foi um comentador de fute-
e voltou
alegria contagiante, a mesma que separa
de showball, jogo muito popular na Améri- bol argentino que assim o baptizou) em que
para contar
definitivamente um extraordinário joga-
ca do Sul; o Maradona pai-galinha; o Mara- o génio, antes de marcar, finta meia equipa dor de futebol de um astro. De resto, Mara-
dona rock star. Tudo em que ele toca pare- inglesa, deixando o seu país em êxtase. A o que viu dona não é outra coisa.
FOTOSDERODAGEM
do documentário
“Maradona”,
de Emir Kusturica
Expresso 31 Janeiro 2009 11