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Leishmaniose visceral - considerações sociais e científicas Na edição de março/abril da revista
Clínica Veterinária, nesta seção de car- tas, nas páginas 12 e 13, Vanessa Pi- nheiro Borges, Coordenadora do Nú- cleo de Comunicação/Secretaria de Vi- gilância em Saúde/Ministério da Saúde (MS) descreveu considerações sobre a leishmaniose visceral (LV) sob o ponto de vista da instituição. Porém, principal- mente, para os clínicos veterinários de pequenos animais, profissionais que lidam diretamente com o problema, as considerações do MS merecem algumas ponderações. Apresença do agente tem sucesso em
instalar a doença na população porque esta encontra-se suscetível por fatores imunossupressores, principalmente, pe- la desnutrição. Também é interessante acentuar que a maior incidência de ca- sos humanos é verificada na região nor- te e nordeste. Na maior parte dessas áreas a eliminação canina é feita livre- mente, pois as populações carentes não podem arcar com exames mais específi- cos ou com tratamento de seus cães. Se- ria transparente se pudéssemos publicar a origem dos casos para termos condi- ções de análise dentro da realidade do problema. A política de eliminação canina para
a prevenção da LV torna-se insustentá- vel quando se reconhece as evidências e a evolução de outros reservatórios en- volvidos nas áreas urbanas: gatos, gam- bás e roedores. Além disso, estudos es- tatísticos demonstram que o controle do vetor1
(Lutzomyia longipalpis) é signifi-
cativamente muito mais eficiente que a eliminação canina. No Brasil, as medidas normatizadas
não são devidamente cumpridas. O diagnóstico e tratamento humano tem sido divulgado e parece ser feito, embo- ra saibamos que a demora no diagnósti- co pode ser fator de elevação da morta- lidade. O diagnóstico sorológico canino carece de maior eficácia, com menor número de resultados falso positivos ou negativos, conforme já publicado na li- teratura especializada. Quanto à vigi- lância entomológica, ela tem sido inex-
12
pressiva. No início de 2010, técnico represen-
tando a saúde pública do município de Belo Horizonte, declarou a um jornal que a prioridade no controle da LV é a eliminação canina e justificou esta con- duta alegando que o controle do vetor não é possível. Diferentemente desse ponto de vista, desde o encontro da OPAS, em 2005, a Anclivepa-Brasil vem alertando sobre a importância das ações serem focadas no controle do vetor e nas orientações preventivas. Va- le ressaltar que nesse mesmo encontro da OPAS, o tratamento canino foi am- parado e aceito, desde que as medidas de controle do vetor fossem adotadas e que um médico veterinário estivesse responsável pelo paciente. Adescontinuidade das ações,
são
constantes desde o início dos casos em Belo Horizonte e, aparentemente, tam- bém pelo Brasil. Em 2001, publicação na revista de Medicina Tropical2
, cujos
autores representavam o MS, declarava a ineficiência da política de eliminação canina e clamava por maior dedicação no controle do vetor. O artigo elenca 12 motivos que consolidam a inoperância dessa medida. Apesar disso, o MS man- tém a eliminação canina como principal opção de controle da LV. Nas considerações do MS publica-
das uma chama a atenção: “há uma ten- dência na estabilização no número de casos e uma redução de 31% no núme- ro de municípios com transmissão in- tensa e moderada, passando de 314 municípios em 2003, para 217 em 2009”. Seria interessante conhecermos a realidade desses municípios, para po- dermos retirar de cada experiência de sucesso quais foram as prioridades ali aplicadas, pois as informações que cir- culam são de que a LV se expande de forma alarmante, já sendo encontrada até na Argentina. O MS justifica a política de elimina-
ção de cães pelo fato de que a remoção desses animais reduz o pool de fontes de infecção para os insetos transmisso- res do agente, limitando sua capacidade
de transmitir o parasito para humanos e outros cães. Porém, existem estudos que não amparam tal afirmativa. Aqui, no- vamente a literatura aponta para o con- trole vetorial como sendo a medida de maior impacto no controle da transmis- são do agente. Aportaria apócrifa, publicada na edi-
ção de jan/fev/2010 da revista Clínica
Veterinária, regulamentava o tratamento canino da LV. Ela foi escrita dentro do MS, com as evidências científicas obti- das até aquela ocasião. Os argumentos apresentados pelos técnicos do MS para a não publicação da portaria redigida com a participação de médicos veteri- nários, técnicos do MS e CFMVnão são convincentes, a não ser pela mudança do pessoal de encaminhamento das dis- cussões, procurando o apoio científico de pesquisadores sabidamente contrá- rios ao tratamento canino. Aforma como os trabalhos foram conduzidos naquela ocasião já foi de- nunciada em encontros acadêmicos e de profissionais em várias ocasiões. A exigência no debate de que não fossem discutidas as medidas de forma global e a indagação permanente de que somen- te seriam aprovados tratamentos com 100% de garantia de não transmissibili- dade, inviabilizaram qualquer discus- são biológica. É evidente que o próprio órgão não pode oferecer 100% de ga- rantia de que a eliminação em massa dos cães vai eliminar o agente e, conse- quentemente, a doença do nosso meio. Com relação ao que foi colocado
sobre indução de cepas resistentes à miltefosina, nenhuma evidência cientí- fica ampara tal afirmativa. Sabemos que a resistência é muito diferente entre as espécies de leishmanias. Além disso, ca- be frisar que os trabalhos sobre resis- tência que constam nas referências do II Fórum sobre a Leishmaniose Visceral Canina são todas de trabalhos realizados na Índia, onde o agente transmissor da leishmaniose visceral se difunde direta- mente através das picadas do vetor em seres humanos, não existindo o reser- vatório canino. Por essas diferenças do
Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010
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