Saúde pública
Leishmanioses O início de 2009 foi marcado por um
grande evento: o WorldLeish4. Ele foi realizado em local muito distante, na Índia, mas teve uma grande participação de especialistas brasileiros. Aliás, o Bra- sil é um dos países que mais se destaca no assunto. Alguns pesquisadores bra- sileiros que se destacaram no evento foram: Carlos Henrique Nery Costa (médico do Governo do Estado do Piauí e Coordenador Executivo da Rede Nor- deste de Biotecnologia) e Vitor Márcio Ribeiro (médico veterinário atuante em linhas de pesquisas que envolvem a clí- nica e o tratamento da leishmaniose vis- ceral canina). Costa, além de contribuir cientificamente para o WorldLeish4, coordenou o Simpósio Internacional de Vacinas para Leishmanioses (International Symposium on Leishmaniasis Vaccines), realizado em março de 2009, em Recife, PE, durante o XLV Congresso da Socie- dade Brasileira de Medicina Tropical. Ribeiro, por sua vez, apresentou traba- lhos científicos que mostraram a falta de confiabilidade nos testes de diagnóstico encontrados em instituição de referência e os resultados de cães com leishma- niose visceral canina tratados utilizan- do-se protocolo imunoterápico. Uma das alegações do grupo que de-
fende a proibição do tratamento canino é que ele representa risco para a popula- ção em função de poder promover resis- tência no agente patogênico às poucas medicações disponíveis para o trata- mento da leishmaniose visceral huma- na. Porém, esta alegação está ficando ultrapassada, pois já foram apresentadas evidências científicas do tratamento de cães por imunoterapia, realizado com produto de uso exclusivamente médico veterinário. Além disso, vale destacar a descoberta das evidências científicas apresentadas pela nimodipina, medica- mento genérico utilizado como vasodi- latador para pacientes com isquemia ce- rebral, que apresenta potente atividade contra o parasita causador da leishma- niose. Detalhes do trabalho científico sobre a nimopidina podem ser conferi- dos no artigo Antileishmanial activity and ultrastructural alterations of Leishmania (L.) chagasi treated with the calcium channel blocker nimodipine, publicado na revista Parasitology Research 2009 Aug;105(2):499-505. Epub 2009 Apr 8. O artigo mostra que
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os ensaios in vitro, tiveram ação quatro vezes mais efetiva contra a leishmanio- se visceral que o glucantime. Em julho de 2009, ocorreu no Brasil
o congresso mundial da World Small Animal Veterinary Association (WSAVA). Foi o maior evento já realizado pela associação. O tema leishmaniose foi con- templado com a apresentação de espe- cialistas do Brasil – Vitor Márcio Ri- beiro e Clarisa B. Palatnik – e do exte- rior, Lluis Ferrer. Ribeiro destacou que: “precisamos ter diagnósticos seguros! Não podemos matar animais havendo a possibilidade de que eles não estejam infectados. O tratamento de cães com leishmaniose visceral está descrito na li- teratura científica e praticado em paí- ses onde a população não aceita a ma- tança indiscriminada de seus cães” Palatnik, ao falar sobre a vacina de 2ª geração registrada contra leishmaniose visceral canina (FML-saponina-Leish- mune), destacou, além dos bons resulta- dos profiláticos nas regiões onde a vaci- nação tem sido realizada em grande es- cala, a sua utilização imunoterapêutica. Ferrer, por sua vez, deu importante con- tribuição destacando que o diagnóstico da leishmaniose visceral canina pode ser bastante complexo e que, em muitos casos, exige árdua investigação para se alcançar o diagnóstico definitivo. Citou alguns casos que aparentemente indica- vam leishmaniose, mas se tratavam de outra enfermidade, como, por exemplo, o caso de cão que possuía sorologia 1:80, mas que na verdade estava acome- tido por lupus discóide eritematoso. Além da contribuição dada no
WSAVA 2009, Lluis Ferrer esteve pre- sente dois dias em Belo Horizonte, MG, no tradicional simpósio de leishmaniose visceral organizado anualmente pela Anclivepa-MG e coordenado por Vitor Márcio Ribeiro. O título deste simpósio, “Da infecção à cura”, despertou a aten- ção tanto de clínicos quanto de autorida- des de saúde pública. Em entrevista à Clínica Veterinária Ribeiro explicou que “do ponto de vista médico, a leishma- niose visceral canina tem cura. Do pon- to de vista parasitológico, ela não tem cura. Porém, é paradoxal quando se afirma que a leishmaniose visceral no homem tem cura e no cão não. No cão, assim como no homem, a cura também é clínica. A leishmaniose visceral ca- nina tem início, meio e fim. O fim é a
cura clínica com a supervisão médico- veterinária que o cão deve ter. Assim como no homem, no cão ela também po- de ter recidiva. Nos cães com leishmanio- se visceral que são tratados, a infectân- cia é muito baixa. Este é um dos motivos pelos quais as autoridades de saúde pú- blica da Europa, passaram a estimular o tratamento. Na Europa há cinco déca- das, a política era matar os cães infec- tados ou doentes. Porém, esta política não funcionou porque a sociedade não a aceitou. Com a mudança de postura, o tratamento passou a ser incentivado, porque reduz a infectância dos cães e, consequentemente, reduz também a pos- sibilidade de casos humanos. Uma vez associadas as medidas contra o vetor, os animais em tratamento oferecem segu- rança. Este ano, a contribuição de Ferrer foi muito importante e nos mostrou que a sorologia não fecha o diagnóstico da leishmaniose visceral canina. A política de matar cães com título de 1:40 é erra- da. A sorologia serve apenas para le- vantamentos de populações. Para se afirmarem individualmente, as sorolo- gias precisam estar acompanhadas de outros exames, particularmente, as que apresentarem títulos até 1:80.” No decorrer do ano o tema também
foi abordado em eventos como o II Fó- rum de Discussão sobre o Tratamento da Leishmaniose Visceral Canina (LVC), realizado no início de outubro, em Bra- sília, DF e, de 25 a 28 de outubro de 2009, em Bonito, MS, no III Congresso Nacional de Saúde Pública Veterinária e I Encontro Internacional de Saúde Públi- ca Veterinária. Presume-se que os obje- tivos da realização do II Forum de Dis- cussão sobre o Tratamento da Leishma- niose Visceral Canina (LVC) tenham si- do apenas políticos, no intuito de refor- çar a Portaria Interministerial n. 1.426, de 11 de julho de 2008, que “... proíbe o tratamento da LVC com produtos de uso humano ou não registrados no MAPA”. Esta evidência fica bem clara ao se ava- liar a pequena lista dos participantes do fórum, da falta de especialistas com ex- periência clínica no assunto e da inex- pressiva quantidade de médicos veteri- nários participantes. Obviamente, a ex- clusão, de especialistas que enriquece- riam as discussões, facilitou bastante o desfecho do evento: a criação de um do- cumento que tem o objetivo de reforçar a proibição do tratamento de cães com
Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009
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