Expresso, 31 de Janeiro de 2009 PRIMEIRO CADERNO 35
Luís
Freitas
Lobo
aprender a
Líder Qual dos três ‘grandes’ tem uma estrada mais longa para percorrer
Veloso
sobreviver
em busca do bom futebol na segunda volta do campeonato?
e Djaló
O
treinador de futebol é,
antes do pensamento A ‘jangada’ do primeiro lugar
táctico, um líder espiri-
tual de um balneário on- M
iguel Veloso e Yannick
Djaló. Embora, em
campo, raramente tro-
quem a bola, são uma
de coexistem diferentes persona- dupla inseparável no Sporting.
lidades humanas em formas de Cresceram juntos na ‘toca do
jogador de futebol. Em qual- leão’ e hoje, noutro nível, procu-
quer local, esse homo sapiens de- ram um espaço mais luminoso.
ve ter duas qualidades: sedução Futebol e contrato. Nada mais
e coragem. Não terá de ser sem- natural. Causa impressão ver co-
pre um ‘D. Juan’, nem um ‘India- mo, nos últimos meses, estes
na Jones’, mas há um princípio dois jogadores escureceram, pri-
transversal: os incentivos, em meiro o olhar, depois o jogo,
voz alta, públicos. As reprimen- Desde não festejar golos a criti-
das, em privado, discretas. Cada car a posição onde jogam. Cada
vez mais os treinadores fogem a qual, tem a sua forma de expres-
este conceito. O próprio Mouri- são. Não são essas, porém, a me-
nho entrega a cabeça dos jogado- lhor forma de o jogador dizer o
res numa bandeja Quaresma, que lhe vai na alma. Ambos ex-
Balotelli, Adriano... Em Portu- pressam-se melhor em campo,
gal, os choques de Bento com os com a bola. Resgatar esses estí-
egos individuais de balneário, o mulos, na total dimensão, é uma
sermão de Jesualdo após um jo- prioridade para o melhor Spor-
go fraco na Taça e o caso maior, ting da segunda volta renascer.
na Luz, com Quique. Jogadores Um processo que vai desde os
debaixo de fogo. Leo, Sidney, gabinetes até à relva. Com o trei-
Balboa, Reyes... nador pelo meio. Parece dema-
Sempre que vejo um treinador siada gente para uma coisa tão
a criticar um jogador, detec- simples. É, apenas, mais uma
to-lhe como um instinto de so- prova de como o futebol (gestão
brevivência de alguém que vive dos clubes e talentos de jogado-
no centro da pressão. Porque o res) se tornou um labirinto atípi-
jogador falha e é o treinador que co com muitas saídas. Só uma,
logo parece um incompetente. porém, coincide com o bom sen-
O contrário também sucede. so, o do bom futebol.
Um golão e o treinador logo pa-
rece um iluminado.
Os sermões públicos escapam
à lógica do líder sedutor e corajo-
O ‘motor’
so. Desde logo porque o jogador
está numa situação subalterna.
Evaldo
Não pode responder da mesma Jesualdo,QuiqueeBento:trêstreinadores,trêsfilosofiasdejogoembuscadotítulonacional
forma. Mas, em geral, estas ati-
tudes caem bem nos adeptos fortes. Uma questão de táctica indivi- quem o via jogar. Porque o ‘cebola’ não
que, estranhamente, aplaudem dual para tornar a ideia colectiva mais é extremo. Será uma mistura de vários
mais depressa o esforço do que eficaz. O regresso de Vukcevic, as fo- médios, exímio a transportar a bola. E
o talento. Aplaude-se mais o jo- gueiras de Izmailov, as parábolas de eis novo sistema. O ‘cebola’ baixa para
gador que corre atrás de uma bo- Moutinho, os golos de Liedson. Estímu- o meio-campo, vai um pouco para den-
la que vai sair irremediavelmen- los individuais para dar dimensão com- tro, e deixa Hulk e Lisandro na frente:
te pela linha de fundo, do que petitiva ao colectivo. 4x1x3x2. Construído o novo edifício tác-
um lance individual que termina Jesualdo e Quique têm, tal como des- tico (individualidades e colectivo) há
com um remate para fora. U
m ponto. Há algo de
novo nos nossos rel-
vados. Os ‘grandes’
estão mais próxi- N
inguém jogou tanto co-
mo ele esta época. Des-
de a Intertoto, ainda no
calor de Julho, até à ne-
mos, como há mui- ve do Inverno actual, Evaldo ain-
to não se via. O pri- da não parou um segundo de cor-
meiro sinal de mu- rer. 30 jogos consecutivos. UE-
dança veio do Dra- FA, as várias Taças e o Campeo-
gão. O FC Porto co- de o início da época, uma estrada tácti- que solidificar todos estes pilares. nato. Sempre a titular, 90 minu-
A relação com os adeptos e meçou a época como que a “moer um ca mais extensa para percorrer no res- Mas é Quique quem tem mais traba- tos. Que ‘motor’ terá escondido
com os jogadores. É no cruza- sentimento”. Um ‘Porto sentido’ que to do campeonato. No FC Porto, os late- lho táctico para realizar. Por isso, o seu dentro de si? Lateral-esquerdo
mento destes dois cenários que jogou muitas vezes como “milhafre fe- rais. Fucile, onde a picardia perde por Benfica é a equipa que ainda tem maior do sedutor Braga de Jesus, faz to-
surge o sermão público do trei- rido na asa”, até que, longe de casa, vezes o timing da bola, e a aculturação margem de crescimento. Principal da a faixa no mesmo fôlego.
nador. Na origem, está a primei- no minuto 92 de um jogo na berma de Cissokho, um jogador em constru- questão: a ligação meio-campo-ataque. Avança e recua. Não é um gran-
ra relação. Devia estar a segun- de um precipício, em Kiev, surgiu o Em vez da necessidade de ter o jogo de craque, mas é o tipo de joga-
da. É o tal instinto de sobrevivên- golo que ressuscitou a alma escondi- ‘partido’ e apanhar a outra equipa dese- dor em que o treinador pode con-
cia. O último poder. da e, na tabela Hulk-Lisandro, a nova
OBenficaéaindaaequipa
quilibrada para criar lances de perigo, fiar sem necessidade de estar
estratégia ofensiva, muito diferente
commaiormargem
ser capaz de sair a jogar de forma cons- sempre a gritar com ele. Cha-
do tempo das trivelas.
decrescimentotáctico
trutiva e pensada desde trás, aceleran- mam-lhes jogadores de equipa.
Olhando as três equipas, os seus pro- do depois no ataque. Uma evolução Cada jogo como uma história in-
cessos de crescimento na época são que, vendo os jogadores ao dispor, po- terminável. A prova de como, no
muito diferentes. De todas, o Sporting ção. Nos últimos anos, o melhor baró- de tornar a sua candidatura ao título no futebol, o cansaço físico é uma
é aquele que, para o bem e para o mal, metro da equipa foi o meio-campo. A caso mais sério entre os três ‘grandes’. mera ilusão. A única coisa real
vive com mais certezas. Tem um siste- equipa cresceu ou desceu conforme o É este o maior ponto de interrogação em campo é mesmo a bola a ro-
ma táctico (4x4x2 losango) e uma for- seu rendimento. Com Lucho entristeci- da segunda volta. A insustentável leve- lar. E, nesse espaço, Evaldo nun-
ma de jogar (saída apoiada circulando do, perdeu o pilar espiritual mas inven- za de cada ‘grande’, cada qual com os ca pára de a perseguir.
a bola) perfeitamente assimilados. Nes- tou um novo pivô-defensivo. Assim nas- seus problemas, tornou o primeiro lu-
se sentido, Paulo Bento não teve a ne- ceu o menino Fernando. Na segunda gar numa ‘jangada’ que abana com as
cessidade de fazer um trabalho táctico volta, o seu futebol necessita agora de tempestades provocadas por qualquer
de base. A segunda volta não será dife- entrar na, digamos, idade adulta. É um adversário mais insolente. A melhor
rente. Desta forma, mais do que pensar espaço onde já entrou Cristian Rodrí- forma de as combater é entendendo os
em como tornar a equipa colectivamen- guez. No início, o simples facto de jogar cambiantes dos seus sorrisos tácticos.
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te mais forte, deve pensar em como tor- no mesmo espaço onde antes estava Ser uma equipa com capacidade de au-
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nar algumas posições (jogadores) mais Quaresma criou ilusões de óptica em to-análise. ‘Conhece-te a ti próprio!’.
PAINEL DE PALPITES DO EXPRESSO
A ciência futebolística
Luís Nazaré
reito, a Arquitectura, a Economia, a
Medicina, todas estão presentes, nu-
ma combinação rara e complexa, ca-
N
o tempo em que as galinhas paz de cativar os espíritos mais bri-
tinham dentes, eram 11 con- lhantes para a investigação científica.
tra 11, uns atrás e outros à Mas atenção: sem conhecimentos pro-
frente. Nem árbitros havia, fundos de Álgebra e Geometria não se
que o football era praticado por gen- chega lá. É que as tácticas modernas,
tlemen, capazes de se auto-regularem tal como no-las apresentam os especia-
sem necessidade de juízes de fora. De- listas, são construções matemáticas fi-
pois, tudo se complicou. Introduzi- namente elaboradas, repletas de fun-
ram-se árbitros, regulamentos, trei- ções e figuras geométricas móveis em
nadores, tácticas e outras coisas mais espaços não-lineares. gos e os quadrados. Tenho-me esforça- o que os meus olhos impreparados melhor, que eu não consigo atingir), a
até se chegar ao actual estado de com- Neste processo evolutivo, tenho pro- do, diante da televisão e no Estádio da não vêem. ver circunferências onde devia haver
plexidade da arte, objecto de análise curado adaptar-me o melhor que pos- Luz, por compreender o que os cientis- É urgente que me recicle. Enquanto quadrados, trapézios em vez de losan-
da ciência futebolística. so. Pensava eu que dominava a maté- tas nos explicam com uma surpreen- me mantiver nesta ignorância, nem gos e construções caóticas no lugar de
Esta nova ciência tem características ria com as matrizes 4x3x3, 4x4x2, dente desenvoltura, mas já percebi prazer consigo tirar de uma partida de matrizes ordenadas.
multidisciplinares. A Psicologia, a Pa- 4x5x1, 3x5x2 e outras derivações, que tenho de regressar aos velhos ca- futebol. Passo o tempo a imaginar figu- Assim se explica a posição que ocupo
rapsicologia, a Física, a Química, o Di- quando surgem os triângulos, os losan- nhenhos da Geometria para alcançar ras geométricas que não estão lá (ou neste painel.
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