20 PRIMEIRO CADERNO Expresso, 31 de
DESEMPREGO
Janeiro Os jornais dos últimos meses mostram um
país a braços com uma explosão do desemprego
Mais de cem
despedidos
por dia
A CGTP teme o ‘pânico’
loca reservas e pudor na divulgação de
Texto Rosa Pedroso Lima
dados desta natureza. Na passada segun-
Foto Alberto Frias
da-feira, Carvalho da Silva apresentou
em pleno ‘Prós e Contras’, da RTP, uma
O
s números são um bom lista de “duas centenas de empresas que
ponto de partida para nos últimos dois meses anunciaram des-
traçar o quadro negro pedimentos”. O Expresso procurou ob-
do desemprego em Por- ter essa lista, mas chocou com algumas
tugal: dados do Institu- cautelas. Arménio Carlos, dirigente da In-
to do Emprego e For- ter responsável pelo levantamento, subli-
mação Profissional mos- nha que se trata “apenas de uma amos-
tram que, no final de tra, que engloba situações muito diver-
Dezembro, 402.545 sas” e prefere mantê-la sob reserva. “Não
pessoas estavam inscritas nos Centros da queremos contribuir para um clima de
Segurança Social. Só em Janeiro, as notí- alarme social e de pânico”.
cias davam conta de uma realidade ainda Os números são tanto mais graves quan-
mais preocupante: 3551 trabalhadores fo- to atravessam vários sectores profissio-
ram informados do despedimento. Con- nais e não escolhem habilitações dos tra-
tas feitas através das páginas dos jornais, balhadores. Indústria automóvel, hotela-
há uma realidade sinistra: 118 pessoas per- ria de luxo, sector farmacêutico ou mes-
deram o seu posto de trabalho em cada mo a comunicação social — tradicional-
dia que passou do primeiro mês do ano. mente mais ‘poupados’ ao embate das cri-
É uma amostra, recolhida pelo Expres- ses — foram alguns dos grandes responsá-
so com base na imprensa nacional dos úl- veis pela escalada das estatísticas do de-
timos três meses. Em Outubro, os despe- semprego. Em Novembro, só na área far-
dimentos que chegaram às páginas dos macêutica houve mais de 400 despedi-
jornais atingiam 763 trabalhadores. Em mentos. A Autoeuropa, Peugeot, Toyota
Novembro, foram mais 1724 e em Dezem- ou Yasaki foram responsáveis por mais
bro 1739. Janeiro, mais que duplicou esta de um milhar e meio de desempregados.
‘estatística’ informal. A própria CGTP co- A Impresa, Cofina, Impala e Controlin-
veste avançaram também para despedi-
mentos na imprensa e da televisão.
O fenómeno do desemprego corre por
todo o país. Entre Dezembro de 2007 e
POR TRÁS DOS NÚMEROS DE DESEMPREGA
CASOS EXEMPLARES
Dezembro de 2008, mais de 25 mil pes-
soas chegaram aos balcões dos centros
de emprego — um crescimento de 6,65%, JoséCarlosLopes
Quimonda segundo números oficiais. Em concelhos 53anos
A Qimonda encerrou, ontem, a produção, como Paredes de Coura, foi mais de 53% 17MESESNODESEMPREGO
depois de uma semana de impasse sobre o o acréscimo nos registos da Segurança Depois de uma carreira de 27 anos na
destino que a multinacional alemã iria dar Social (ver reportagens na página 33). E, indústria livreira, José Lopes viu a porta
à filial de Vila do Conde. O Governo disse pior, esta pode ser apenas a ponta de um de saída ser-lhe apontada em Agosto de
repetidas vezes estar disponível para ‘tudo icebergue, de uma crise social. “Sabemos JoséCarlos Glória Amândio Gisela Francisco 2007. Foi a época das grandes mudanças
fazer’ para salvar a fábrica. 1800 trabalha- que apenas 40% dos inscritos nos cen- Lopes Raimundo Pinheiro Rocha nas editoras nacionais, com a entrada
dores, com uma média etária de 35 anos, tros de emprego recebem subsídio”, diz em força da novíssima Leya no mercado.
300 dos quais são engenheiros, enfrentam Arménio Carlos, da CGTP. Muitos dos Entre tomadas de posição, fusões e
agora um futuro incerto inscritos ultrapassam já o período limite confusões, o novo gigante editorial fez
de três anos em que podem beneficiar do com que sobrassem trabalhadores no
Euronadel subsídio de desemprego. Outros tantos seu novo organigrama. E José sobrou.
A fábrica de Albarraque, no concelho de perderam o direito, por falhas no cumpri- “Nunca pensei que ficava desempregado
Sintra, faz agulhas desde 1968. Esta sema- mento dos vários requisitos exigidos pelo tanto tempo”, confessa ao Expresso.
na, encerrou, deixando 182 pessoas no de- Governo — que vão desde o atestado pas- Os múltiplos contactos que os anos de
semprego. Os sindicatos preparam uma sado pela entidade patronal à prova — profissão lhe proporcionaram, foram-lhe
manifestação para terça-feira, junto do mensal — de que foram feitas, pelo me- fechando, uma a uma, as possíveis portas
Ministério da Economia, porque, afir- nos, três tentativas para encontrar um
Os que vencem a vergonha e o medo
de saída para a crise. Até hoje. Do centro
mam, os trabalhadores “foram apanhados posto de trabalho alternativo. de emprego também nunca recebeu
de surpresa”. Em comunicado, o grupo ale- Um outro sinal de que a amostragem qualquer proposta de trabalho. E o
mão Groz-Beckert explica o encerramen- do Expresso pode pecar por defeito, diz mercado, tal como o conheceu,
to “definitivo” da unidade, devido à “dete- ainda respeito ao facto de mais de 80% O desemprego é carga tão difícil lhar e nova de mais para ficar em casa”. desapareceu sem que tivesse dado conta.
rioração de diversos factores do mercado do tecido empresarial português ser cons- que poucos aceitam dar a cara. Por A multinacional americana de João dis- “Tudo o que vejo são propostas com
global, em particular da indústria têxtil”. É tituído por pequenas e médias empresas, vergonha ou medo muitos outros pensou-o aos 42 anos. Teve indemniza- salários francamente abaixo do que
deste mercado que a fábrica depende to- que fecham sem deixar rasto nem mere- recusaram aparecer no jornal. As ção e apoio psicológico para enfrentar o ganho com o subsídio de desemprego”,
talmente cer notícia dos jornais. Augusto Morais, suas histórias seguem sem rosto futuro. “É difícil gerir o vazio do meu que a custo chega para pagar as contas
presidente da Associação Portuguesa de tempo”, depois de anos de pressão como e apoiar a filha, de seis anos, que
TycoElectronics Pequenas e Médias Empresas, garante Fátima chegou ao desemprego aos 50 director de serviços e 50 pessoas a cargo. acompanha como pai divorciado. “Pensei
É a maior empregadora do concelho de que a situação “é dramática”. Números anos, depois de décadas como costurei- “Dantes, o mercado era imenso, não ti- que fosse mais fácil”, diz. O medo
Évora e a maior unidade fabril do Alente- recolhidos pela sua associação — e sem ra na mesma fábrica. Quando começou nha problemas em encontrar novo em- de “com esta idade” não conseguir
jo. Anunciou a suspensão do contrato de confirmação oficial — são esmagadores: a trabalhar, a máquina que tinha à fren- prego”. Agora, o seu mundo encolheu. reorganizar a vida é o fantasma que
536 operários (um terço dos trabalhado- “entre 1 de Setembro de 2007 e 31 de De- te servia para coser saias. Depois, com a António está há três anos desemprega- mais o persegue.
res) para “garantir a viabilidade da empre- zembro de 2008 ficaram no desemprego, crise nos têxteis, a fábrica virou agulhas do. Perdeu o direito a subsídio, sem ter
sa”. A Câmara diz que a situação é “preo- por motivo de falência, 40.000 micro e para os air-bags. Em Dezembro, a em- achado alternativa de trabalho. Com 57
cupante” e pede a intervenção do Gover- pequenos empresários”. presa fechou. Agora, “no subsídio”, anos está em risco de perder a casa onde
no. Até agora sem resposta
rlima@expresso.impresa.pt acha que “é velha de mais para traba- sempre viveu. Aproveita os biscates.
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