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Janeiro de 2009 PRIMEIRO CADERNO 21
>>
O lado
mais
negro
da crise
financeira
mundial
A Organização Internacional
do Trabalho estima que
o mundo possa chegar ao fim
do ano com mais 51 mihões
de desempregados
Diariamente surgem novos anún-
cios de despedimentos em algu-
mas das maiores empresas mun-
diais. Só esta semana, mais de
100 mil trabalhadores ficaram a
saber que vão perder o posto de
trabalho. É a consequência da cri-
se internacional que está a levar
muitas empresas a cortes drásti-
cos na produção, para tentar so-
breviver a uma procura global ca-
da vez mais fragilizada.
O rápido agravamento da situa-
DOS HÁ ROSTOS E HISTÓRIAS PARA CONTAR
ção económica obrigou a Organi-
zação Internacional do Trabalho
(OIT) a rever as projecções que ti-
nha apresentado em Outubro e
GlóriaRaimundo AmândioPinheiro Gisela FranciscoRocha nas quais apontava para um au-
51anos 34anos 24anos 51anos mento de 20 milhões no número
29MESESDEDESEMPREGO UMMÊSDEDESEMPREGO 5MESESDEDESEMPREGO 2ANOSDEDESEMPREGO de desempregados a nível mun-
Fez a primeira e a última chamada de “O Tem 12 anos de actor e encenador, Entrou no curso de Enfermagem quando Entrou para Psicologia, quando o curso dial em 2008 e 2009. Agora, a fas-
Independente”, o jornal que fez rebentar tempo suficiente para aprender de cor as perspectivas de saída profissional da Universidade de Lisboa era uma quia subiu para 51 milhões, no ce-
de escândalos o país de brandos como o estatuto de artista vem com o eram uma garantia absoluta, deixando estreia absoluta a nível nacional. nário mais pessimista. A julgar
costumes. Durante os 18 anos de vida do carimbo de precário colado na pele. sair rodadas e rodadas de alunos dos Estávamos nos finais dos anos 70, as por estas contas, o mundo chega-
semanário, Glória foi a telefonista que “Dei-me conta que tenho um papel bancos das aulas directamente para um Ciências Humanas recebiam os primeiros rá ao final de 2009 com 230 mi-
esteve de pedra e cal em todas as original: estou à procura do primeiro emprego certo e seguro. Mas isso foi estudantes e davam os primeiros passos lhões de desempregados.
grandes batalhas, driblando as chamadas emprego e estou desempregado. Tudo antes de Gisela chegar ao fim. “A meio para garantirem espaço de vida. Gostou Nos restantes dois cenários con-
mais inconvenientes, devorando as listas ao mesmo tempo e desde que comecei”, do curso, as coisas mudaram”, diz da licenciatura e fez-se ao mestrado, siderados pela OIT, os números
telefónicas até encontrar os alvos diz Amândio, sem inquietação. Aprendeu a recém-licenciada. tanto que seguiu para doutoramento na são mais baixos mas não deixam
pretendidos por uma redacção em a gerir os compassos de espera, as Gisela terminou o curso em Julho e, área de Gestão de Recursos e Psicologia. de ser preocupantes: 18 e 30 mi-
permanente alvoroço. pausas entre trabalhos, sempre feitos à em vez de um emprego, ganhou um Juntou a Academia à clínica e aceitou um lhões de novos desempregados
Chorou no dia em que abandonou o tarefa e sem vínculos de maior. Foi lugar na lista de inscritos nos centros convite de uma universidade privada neste período de dois anos.
barco, depois de decretada a falência protagonista e encenador, conhece da Segurança Social. Dos 50 finalistas para dar aulas. “Defendo e acredito no Nos EUA, o ano passado foi já o
e esquecidos os anos de glória. Agora, os palcos do Dona Maria até Espinho. do seu ano, apenas 15 conseguiram ensino superior privado”, faz questão de pior em destruição de emprego
os netos e os filhos ocupam-lhe os dias, Filmou em França e em Itália, gosta colocação em hospitais ou clínicas referir no arranque da conversa com o desde a 2ª Guerra Mundial e tudo
demasiado calmos para quem se do que faz e segue em frente. de saúde. Os numerus clausus Expresso, para que não restassem indica que a tendência vai conti-
habituou a estar no centro do furacão. O estatuto de actor, face à lei laboral é trocaram-lhes as voltas em poucos anos dúvidas sobre a sua posição de base. nuar em 2009. É que, dos 2,6 mi-
O tempo de vida do subsídio de tão híbrido que não inclui direitos de de estudo e sem aviso prévio. O mercado Mas nem a fé na privada nem os 12 anos lhões de postos de trabalho perdi-
desemprego está a esgotar-se, como registo nos centros de emprego, ou de emprego — que antes era imenso de docência seguidos, na mesma escola, dos, a maior parte (1,9 milhões)
a areia numa ampulheta e Glória teme subsídios para quando os intervalos — desapareceu à sua chegada. lhe valeram quando a estratégia mudou, aconteceu no último trimestre.
o pior. “Com a minha idade, quem é entre filmagens ou entradas em cena O arranque da carreira tarda em chegar, o número de alunos começou a reduzir Na Europa, o desemprego tam-
que me dá emprego”, diz, com os olhos começam a ser prolongados de mais. mas a enfermeira não perde o ânimo. e a oferta de candidatos à docência bém continua a crescer e, em De-
atentos. Espera pela “promessa do Não sabe o que o espera, porque Nem mesmo quando as visitas regulares — mais novos e baratos — começou zembro, segundo dados divulga-
Governo” de beneficiar as empresas que o trabalho pode aparecer amanhã ao centro de Emprego a que ficou ligada a aumentar a concorrência directa. dos ontem pelo Eurostat, atin-
aceitem dar emprego a desempregados ou daqui a uns meses. Arrecada como lhe vão mostrando que não há resposta, Francisco Rocha foi despedido no giu 8% na zona euro e 7,4% no
de longa duração, mas também aprendeu a formiga para render durante os que o mercado da sua profissão não arranque de mais um semestre, quando conjunto dos países da União Eu-
a conhecer bem como é grande a Invernos mais rigorosos. Porque o passa por concursos na Segurança se preparava para começar uma aula. ropeia. Em Portugal, subiu uma
distância que vai de uma promessa feita subsídio de desemprego não está Social, nem por avisos afixados nas Está há dois anos desempregado, décima de ponto, para 7,9%,
no calor de uma campanha eleitoral até na sua lista de direitos adquiridos. paredes dos centros de emprego. registado na Segurança Social e à espera mas espera-se que se agrave, já
a sua passagem a letra de forma. “Vou “Não se pode desistir, não é?”, pergunta. de uma decisão judicial sobre o seu que a maior parte das previsões
sempre aprendendo”, diz Glória, que é A idade ajuda a ter ainda esperança. processo de despedimento. apontam para taxas acima de
feita de uma massa de resistentes. E O caminho que tem pela frente é longo, 8% em 2009.
segue para mais um curso de formação. mas pelo menos tem tempo para João Silvestre
A ver o que dá. o percorrer. jsilvestre@expresso.impresa.pt
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