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32 PRIMEIRO CADERNO Expresso, 31 de Janeiro de 2009
FRANÇA UNIÃO EUROPEIA
O Mundo
dos Outros
José Cutileiro
Sarkozy
jpc@ias.edu
cede a
‘sonho’ da
oposição
Mulher
Os sindicatos e a oposição
em casa,
ao Presidente Sarkozy
desceram às ruas para homem
defender o projecto ‘sonho
geral’ e lutar contra a crise
na praça
“Rêve Générale” foi o principal
slogan das manifestações que,
na quinta-feira, reuniram perto
de dois milhões de pessoas em
diversas cidades francesas. O ‘G’
de greve caiu e os manifestantes P
alavra de ordem dos tali-
bãs? Talvez mas era o
que se dizia no Alentejo
de há meio século — e
pediam um “sonho geral” feliz muita gente no mundo de hoje
contra o pesadelo da crise. ainda assim acha, mesmo fora
Numa esquina da Praça da Re- do Afeganistão e das Regiões Tri-
pública, em Paris, a unidade de bais do Paquistão (onde, pelo
todas as correntes sindicais e da sim pelo não, só 3% das mulhe-
oposição ao Presidente Sarkozy res sabem ler).
era espelhada numa inesperada Às vezes sem abrir bico, outras
imagem. Olivier Besancenot, lí- vezes com excesso de entusias-
der do Novo Partido Anticapita- Protestocontraofechodaprisão,frenteàportadaCasaBranca,emWashington,napassadaterça-feiraFOTO RON EDMONDS/AP mo. Em Mangalore, na União In-
lista (NPA, de extrema-esquer- diana, no sábado passado, dúzia
da), distribuía comunicados a e meia de militantes do grupo
sorridentes polícias à civil que hindu de extrema-direita Sri Ra-
se manifestavam com as bandei-
Foi você quem pediu um
ma Sena, autoproclamados de-
ras do Sindicato Geral da Polícia fensores da moralidade pública,
ao lado de estudantes radicais. entraram ao fim do dia num bar,
Com a forte mobilização duran- insultaram raparigas que lá esta-
te as manifestações, os dirigentes prisioneiro de Guantánamo? vam a tomar copos, bate-
sindicais e da oposição cantaram ram-lhes a seguir e foram-se em-
vitória depois de um dia de greve bora ameaçando-as (e ameaçan-
que provocou menos caos do que do o dono do bar) de que lhes
o previsto nas principais cidades. aconteceria pior se se queixas-
Os efeitos da greve sentiram-se Europeus pouco interessados na ideia portuguesa de acolher ex-detidos sem à polícia. A queixa foi feita,
menos devido a uma menor ade- houve prisões, uma câmara cap-
são no sector dos transportes. Os A primeira reacção dos países Com mais ou menos entusias- sejam abordados publicamente, mo ano. Mas para o director de tou imagens transmitidas por ca-
grevistas foram obrigados a ga- europeus à possibilidade de aco- mo, o processo está mesmo a não serão descurados. Sendo estudos do European Policy Cen- deias nacionais de televisão, pro-
rantir os serviços mínimos em to- lher prisioneiros de Guantána- avançar e os serviços jurídicos um dado adquirido que vários ter, “é importante que não se vocando indignação geral do pú-
do o sector público. mo assemelhou-se a um autênti- da Comissão Europeia e do Con- países europeus tiveram um pa- deixe descontrolar o debate no blico, das autoridades e de ONG
Reconhecendo a força da mobi- co balde de água fria para as in- selho de Ministros vão analisar pel no transporte ilegal de mui- plano ideológico, entre pró e an- ligadas à protecção dos direitos
lização, Sarkozy anunciou nego- tenções da nova Administração os diferentes aspectos e implica- tos destes prisioneiros, nenhum tiamericanos”. humanos — a Índia é uma demo-
ciações com sindicatos e pa- norte-americana, que pretende ções da questão, tendo em vista Estado-membro quererá correr Isso não aconteceu na discussão cracia — e aprovação de extremis-
trões, a partir de Fevereiro. Os encerrar até 2010 a prisão man- o estabelecimento do “quadro o risco de ver um ex-detido re- entre ministros dos Negócios Es- tas, entre eles o chefe do grupo,
sindicatos não vão aceitar um tida ilegalmente em Cuba. Mas a europeu” em que os 27 — tanto correr a um tribunal europeu e trangeiros (a ideia portuguesa Pramod Mutalik, que anda a
acordo a qualquer preço e amea- ideia está a fazer o seu caminho. exigir apuramento de responsa- foi rejeitada pela Holanda, um monte e declarou que os seus ho-
çaram endurecer o movimento “Ninguém se mostrou muito en- bilidades ou indemnizações. apoiante incondicional de Wa- mens tinham feito o que deviam
de “guerra à crise” , como grita- tusiasmado, (…) esta não é certa-
NenhumEstado-membro
Certo é que, quando chegar a ho- shington, e apoiada por france- pois não era admissível que mu-
va um grupo de jovens na Praça mente uma questão que se resol-
quererácorreroriscode
ra, a decisão será tomada por ca- ses e alemães), mas o debate po- lheres frequentassem bares.
da Ópera, onde se verificaram va em semanas ou meses”, resu- verumex-detidoexigir da país e os detidos escolhidos derá complicar-se com o envolvi- Nesta história não há muçulma-
confrontos com a polícia. miu Karel Schwazenberg, minis- indemnizações ‘caso a caso’ — embora pareça mento dos ministros da Justiça nos — o grande medo masculino
Na greve geral, participaram tro dos Negócios Estrangeiros
numtribunaleuropeu
haver consenso de que apenas e da Administração Interna, de- dos perigos da mulher é muito
os trabalhadores dos principais checo, país que ocupa a presi- serão abrangidos os que não fo- vido à sua “visão mais restritiva mais antigo do que o Islão — mas
sectores de actividade económi- dência rotativa do ‘clube’ euro- ram acusados e que não podem e legalista” que, segundo um di- no universo claustrofóbico dos
ca incluindo o privado, designa- peu, no final da reunião dos che- os que estão disponíveis para regressar aos países de origem. plomata europeu ouvido pelo extremistas islâmicos abundam
damente o ramo automóvel que fes das diplomacias da União Eu- acolher detidos como os que re- Uma definição algo genérica, Expresso, “corre o risco de en- histórias parecidas e piores. En-
vive desde há meses uma crise ropeia, na passada segunda-fei- jeitam essa possibilidade — que- que o ministro português Luís viar os sinais errados”. tre os fanáticos do Hezbollah, no
sem precedentes. ra, em Bruxelas. rem resolver o assunto. Amado concretizou um pouco Natacha Kazatchkine, da Ami- Líbano, e do Hamas, em Gaza;
Durante a noite de quinta pa- Dois dias depois, na reunião se- Um quadro que terá em conta o mais, ao acrescentar que tam- nistia Internacional, manifestou no Irão; na Arábia Saudita e, evi-
ra sexta-feira foram destruí- manal dos embaixadores dos 27, perfil dos detidos a acolher, o bém “depende (…) do tipo de sus- ao Expresso a sua “desilusão dentemente, entre os talibãs que,
das montras e incendiados au- também na capital belga, vários seu estatuto e condições de per- peita que tenha incidido sobre por não ter havido uma posição incapazes agora de impedir edu-
tomóveis na Praça da Ópera, países terão manifestado “sur- manência e mobilidade num es- ele aquando da detenção”. mais clara e forte”, embora con- cação feminina no Afeganistão,
no coração de Paris, e também presa” por a imagem transmiti- paço europeu sem fronteiras, Para Antonio Missiroli, “foi bom sidere “encorajador” a realiza- atiram ácido à cara de meninas a
nos subúrbios. da à imprensa não ter correspon- bem como eventuais apoios fi- esta discussão ter tido início ce- ção do debate. caminho da escola. Já desfigura-
Daniel Ribeiro dido ao que aconteceu na reu- nanceiros à sua integração. do”, tendo em conta a vontade Daniel do Rosário ram várias, que têm voltado he-
correspondente em Paris nião ministerial, conforme rela- E depois há outros aspectos do novo Presidente dos EUA de correspondente em Bruxelas roicamente às aulas. (Quem viva,
internacional@expresso.impresa.pt tou um diplomata ao Expresso. mais sensíveis que, embora não encerrar Guantánamo no próxi- internacional@expresso.impresa.pt como os europeus de hoje, num
hovercraft de conforto material e
cívico, arrisca-se a esquecer a co-
ragem física e moral que a luta
DIPLOMACIA
pela decência exige. Na Penínsu-
la Ibérica e na Grécia gente que
se lembre está na reforma ou à
beira dela; em Itália já ninguém
se lembra e na Alemanha tam-
bém não, salvo na que era Orien-
Paquistão
Fauzia Sana, 55 anos, veste-se exames de ingresso na carreira crementar as relações entre os eólica e solar se interessassem tal e, valha-nos isso, Angela Mer-
com o traje tradicional das mu- diplomática, e esse curso dois países: “As trocas comer- pelo meu país, onde existe vento kel vem de lá. Nalguns antigos
Fauzia
lheres do seu país — salwar ka- deu-me uma visão universal do ciais entre o Paquistão e Portu- e sol em abundância. Na área da países de Leste o problema é ou-
meez (túnica comprida e calças) mundo e das suas relações. Foi gal mais do que duplicaram nes- agricultura, os italianos estão a tro: há gente que julga que, por-
Sana
eadupata (écharpe)—,mas aí que conheci o meu marido, te período, passando de 70 mi- investir no plantio de oliveiras e que o comunismo era mau, tal-
nem sempre respeita as sex- que trabalhava no “Pakistan Ti- lhões de euros para 160. Seria in- também gostava de lá ver os por- vez o fascismo fosse bom. Capi-
tas-feiras como dia santo do Is- mes”. Depois, convenci-o a con- teressante que os empresários tugueses. E pode haver tães de Abril às avessas.)
lão. A embaixadora do Paquis- correr para a diplomacia e, nes- portugueses da área da energia joint-ventures no sector textil”. Voltando às mulheres: o perigo
tão em Portugal procura adap- te momento, é embaixador na A dois meses do fim da sua mis- dos talibãs não vem de eles quere-
tar-se ao ritmo dos países onde Roménia”, conta. são em Lisboa — prestes a mu- rem estabelecer um regime dispa-
trabalha e, na Europa, “há sem- “Termos a mesma profissão é dar-se para Singapura —, Fauzia ratado, inédito e perverso — vem
pre muito trabalho às sextas-fei- uma vantagem. Já tivemos vá- deseja que o trabalho de aproxi- de quererem estabelecer um regi-
ras”. Quando tem oportunida- rios postos em que estávamos
O 2º MAIOR DO SUL DA ÁSIA
mação entre os dois países te- me perverso, com fundamentos
de, gosta de ir à mesquita. É juntos”. Foi o caso da Índia, a pri- nha continuidade. “Os meus fi- corânicos e bíblicos sólidos, tenta-
que, “além de ser um local de meira colocação de Fauzia no ex- lhos gostaram muito de cá viver do ao longo da História. São exa-
culto, também é um sítio onde terior (1982-1986): “Foi o posto
População 172 milhões
e sentiram-se bem na escola. Pa- gerados mas não são loucos.
se convive e ficamos a saber co- de que mais gostei... a primeira
PIB
¤2000
ra as crianças e para os jovens Houve males piores — Hitler,
mo vai a vida das pessoas da co- colocação no estrangeiro é como
per capita
estas mudanças (de país) são Pol Pot, Mao, Estaline — e há
munidade”. o primeiro amor. Estava casada
Inglês – língua
sempre mais difíceis”. A mãe te- mais arrelias: Israel e Palestina, a
Compara a vida de diplomata à há pouco tempo, foi um grande
Línguas oficial; Urdu – língua
ve aulas de português, mas não ganância financeira. Mas cuida-
de um explorador, porque se desafio e um trabalho duro. Mas
nacional
conseguiu aprendeu a falar: do com os talibãs. Por amor das
A embaixadora do descobrem novas terras, cultu- foi também um processo de
Partilha de Afeganistão, Irão,
“Consigo ler o jornal. E descobri suas filhas, mães europeias de-
Paquistão não sabe falar ras e pessoas. “Fiz uma pós-gra- aprendizagem muito intenso”.
fronteiras China e Índia
a pintura em azulejos...” vem deixar tropas europeias
português. Mas foi cá que duação em jornalismo quando Chegou a Portugal há três
95% islâmicos e 5%
Religião
Manuela Goucha Soares irem combatê-los ao Afeganistão
aprendeu a pintar azulejos me estava a preparar para os anos e meio e tem procurado in-
cristãos ou hindus
mgoucha@expresso.impresa.pt se os Governos tal pedirem.
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