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DIVINAS COMÉDIAS
INFERNO Assembleia Mun. Lisboa
va do Bloco e o apoio dos comunistas e dos verdes.
Metaforicamente falando, faz parte da natureza das
coisas não desejar que uma mula se converta num cava-
NINGUÉM NEGA QUE o estado de conservação patri- lo. Mas o que mais impressiona nesta edificante história
monial de Lisboa já conheceu melhores dias. Em certas é a abstenção de três partidos políticos alegadamente
ruas, para não falar de bairros inteiros, Lisboa lembra «responsáveis». O PS, o PSD e o CDS-PP, pelos vistos,
Gaza, sobretudo depois da passagem do exército israeli- não consideraram bizarro, ou até ofensivo, que a capital
ta pela Faixa. Mas talvez seja excessivo procurar gemi- portuguesa seja equiparada a uma cidade onde reina
nar a capital portuguesa com a cidade palestiniana, ao um grupo terrorista, financiado e treinado pela teocra-
contrário do que pensa a Assembleia Municipal de cia iraniana, e que serve de rampa de lançamento de
Lisboa. Segundo sei, a dita Assem- rockets para que a quadrilha possa
bleia resolveu aprovar uma proposta matar indiscriminadamente o maior
lunática do Bloco de Esquerda para número possível de civis israelitas.
o efeito. Para além do Bloco, o Em condições normais, eu diria
PC-PEV também votou a favor. E o que os lisboetas mereciam melhor.
PS, o PSD e o CDS-PP, provavelmen- Mas, atendendo à composição da
te para não estragarem a festa, Assembleia que os próprios elege-
ficaram-se pela abstenção. ram, o mais certo é eles terem o
Longe de mim vergastar a iniciati- que merecem.
PURGATÓRIO Richard Nixon
dade psicológica do homem, provavelmente só compará-
vel à de Lincoln.
Infelizmente, Nixon não tem um John Ford para o
ESCREVI HÁ TEMPOS que Bush será julgado pela filmar. Não teve em Oliver Stone. E não tem em Ron
JOÃO PEREIRA
COUTINHO
história. E a história nem sempre coincide com a opi- Howard, que em “Frost/Nixon” encena, com competên-
nião transitória dos homens. Exemplos? Warren Har- cia mediana, o entrevista-combate entre David Frost e
ding deixou a Casa Branca (na horizontal) sob aplausos. o presidente. O resultado é tépido e Frank Langella,
Hoje, Harding é consensualmente considerado um dos que tive a sorte de ver nos palcos da Broadway como
piores presidentes americanos. O inverso tam- Thomas More em “A Man For All Seasons”, é uma
bém acontece: figuras que partiram sob asso- colecção de tiques e esgares que jamais consegue
bios e regressaram, décadas depois, pela porta revelar as profundezas de Nixon. Dizem que Langel-
grande da história. Truman é um caso. Nixon é la, pelo boneco, foi nomeado para o óscar respecti-
outro. Sim, houve Watergate e a resignação. vo. Incompreensível. E tardio. Langella já
Mas também a abertura de relações com Pe- devia ter recolhido a estatueta há dois
quim e o fim do Vietname, essa sangria inicia- anos, com um filme que, inexplicavelmen-
da por Sua Alteza Real, John F. Kennedy. te, não estreou em Portugal. Intitula-se
Mas se a história já começou a reavaliar a “Starting Out in the Evening” e é o
presidência de Nixon, falta ainda um retrato mais perfeito retrato que vi em cine-
cinematográfico capaz de lidar com a complexi- ma sobre a vida de um escritor.
PARAÍSO Paul Johnson
do intelectual. Se ele veste as roupas de um moralista e
procura ensinar aos outros o que é incapaz de praticar
em casa, eu, confesso, não sou cliente da hipocrisia.
TERMINEI HÁ TEMPOS uma biografia de V.S. Nai- Por isso aplaudo a publicação portuguesa do clássico
paul escrita por Patrick French (“The World Is What It de Paul Johnson, “Intelectuais” (Guerra & Paz). Re-
Is”). Verdade que Naipaul, de passagem por Lisboa, cuando ao século XVIII, ou seja, ao momento em que o
verberou essa biografia, apesar de French a designar declínio do clero fez emergir a figura imponente do
por «autorizada». Mas, para o caso, tanto faz: o livro é «intelectual» secular, Johnson vai analisando o papel
um prodígio narrativo e, ao contrário do que se escre- público de nomes como Rousseau, Marx, Brecht ou
veu, não macula a importância da prosa de Naipaul. Sartre à luz das suas condutas privadas. O retrato não
Saber que o escritor era infiel à mulher e é bonito. E não é bonito porque, ao nega-
espancava regularmente a amante pode rem em privado o que procuravam impingir
alegrar a curiosidade dos simples; não aos outros, a obra destas personagens
atinge a obra porque a obra não pretende surge sob uma luz postiça e vulgar.
ensinar à Humanidade (com maiúscula) A conclusão de Johnson é certeira e
nenhum tipo de conduta virtuosa. Esse, glacial: quem espera pelo papel salvífico
aliás, é o teste supremo para a pergunta dos “intelectuais” esquece-se de perguntar
suprema: a vida privada de um intelectual é que tipo de gente se esconde por trás dos
importante para qualificar a obra? Depende seus sermões.
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