This page contains a Flash digital edition of a book.
P 1 0


Excertos de Romance a aguardar edição IV


Propércio Silva chegou ao mundo fruto de uma ligação clandestina de um homem casado que se dedicava ao negócio de gado e vivia em Terras Altas, região de pro- priedades agrícolas muito produtivas, com encostas on- de se produzia um vinho encorpado e planícies regadas por um labirinto de água que circulava ondulado, ao lon- go de suculentos campos de milho, terrenos de erva vi- çosa e culturas variadas, numa terra solta e grata à hu- midade e à generosidade líquida do pequeno rio que a percorria. Esse homem era um traste de gente que se sentia dono do mundo, com a convicção de tudo poder fazer, pois a lei ou normas não circulavam no seu território, vivendo como um fora de lei e sem a alçada dela. Tinha três filhos adolescentes. A sua mulher era uma pessoa respeitada em Terras Altas e dona da maior par- te das propriedades que o casal possuía. Em negócios, viajava livre de compromissos e disponível para todos os tipos de aventuras ocasionais com mulhe- res, de toda a índole e estirpe. Tinha dinheiro. Vestia bem e a prosápia dele era agradá- vel e fluente. Não escondia piropos a mulheres ou jovens raparigas interessantes com que se cruzava. Em 1961, na visita a camponeses pobres, numa proprie- dade isolada, deu com os olhos despertos, numa rapari- ga que juntava erva no campo, à beira do estábulo e que, de seguida, lhe foi apresentada como filha dos alu- didos agricultores. A rapariga enrubesceu, recolhendo-se na sua vergonha e fugindo para os seus afazeres habituais e rindo do di- chote atrevido. Comprou os vitelos do camponês, adiantando as notas na hora. No dia seguinte, foi buscá-los. Verificou que a rapariga se encontrava a apanhar lenha num montado junto à propriedade e usava um vestido fino e longo, cingido ao corpo. Na realidade, tratava-se de uma bata comprida. Entrou. Colocou os vitelos no camião pequeno e saiu. Parou o camião na estrada e dirigiu-se para o local onde se encontrava a rapariga. - Então, beleza… - atirou ele, simulando um beijo. - Vá-se embora, senhor. O meu pai pode ver, - avisou ela. - Posso jardinar no teu jardim? – insinuou-se, tomando- lhe o braço e puxando-a para si. - Deixe-se disso. Não vê que eu tenho de fazer. Tenha juízo! – juntou ela, envergonhada e rosada. - É coisa que não tenho, paciência… Olha, vou para trás daqueles arbustos e ajudo-te a apanhar lenha, - segre- dou-lhe melifluamente. E caminhou, embrenhando-se um pouco no montado. Assobiou baixinho, incitando-a. Ela, rindo, entrou no jogo, com algum receio, mas com curiosidade… (Continua)


Nota20 - julho 2015


Professor Agostinho Pinho


XIII


O homem bom proclama a solidariedade, respeito e necessidade de felicidade. Mesmo nos furacões, ciclones ou qualquer tempestade de percurso, tenta aproveitar resquícios de alegria e fo- gachos de esperança. Na crueza diária, pode afirmar-se que os bons ou ho- nestos são é uns nabos… Isso é que isso! Nem mais, nem menos! Uns coitadinhos! Esfalfam-se e cumprem! Conclusão: passam pela vida como os touros que pu- xam a carroça e com um destino traçado: o matadouro. E, para cúmulo, ficam contentes com isso! Com ter a canga ou jugo do poder, riqueza e maldade sobre os seus ombros e calcorrearem a vida na subjugação total e na indiferença absoluta de quem se aproveita deles e se compraz em colocá-los constantemente no charco, em espezinhá-los, como a uma calçada. Um filósofo dizia que nada é insignificante e inútil. Nada de mais enganoso e falso! Milhões de seres hu- manos inúteis e insignificantes se sucedem na situação de escravos, sem sequer, terem noção clara, nem difusa da sua condição. Na realidade, os maus vencem sempre os bons em toda a linha e ocupam sempre o primeiro grupo para cortar a meta dos sucessos. Para eles, não há limites para o êxito. Todos os meios se justificam para alcançar os fins em vista. Daí o suces- so da maldade. A maldade é um estado de espírito. Uma anomia consci- ente de veredas de desvio. Uma anomia calculada de prejuízo dos direitos de outrem e aproveitamento das suas fraquezas ou limitações. Uma espécie de esquizo- frenia contra a sociabilidade concertada. Um hábito que se enraíza e medra por onde circula.■


(Capítulos IV e XIII do romance “Não Há Mal Que Sempre Dure” de Agostinho Pinho. Um romance que analisa a malda- de com 35 capítulos de muita ação e emoção)


“Quem semeia o amor, colhe amor; quem semeia a maldade, não pode colher outra coisa!”


Sebastião Wanderley


Page 1  |  Page 2  |  Page 3  |  Page 4  |  Page 5  |  Page 6  |  Page 7  |  Page 8  |  Page 9  |  Page 10  |  Page 11  |  Page 12  |  Page 13  |  Page 14  |  Page 15  |  Page 16  |  Page 17  |  Page 18  |  Page 19  |  Page 20  |  Page 21  |  Page 22  |  Page 23  |  Page 24  |  Page 25  |  Page 26  |  Page 27  |  Page 28  |  Page 29  |  Page 30  |  Page 31  |  Page 32  |  Page 33  |  Page 34  |  Page 35  |  Page 36  |  Page 37  |  Page 38  |  Page 39  |  Page 40  |  Page 41  |  Page 42  |  Page 43  |  Page 44  |  Page 45  |  Page 46  |  Page 47  |  Page 48  |  Page 49  |  Page 50  |  Page 51  |  Page 52  |  Page 53  |  Page 54  |  Page 55  |  Page 56  |  Page 57  |  Page 58  |  Page 59  |  Page 60  |  Page 61  |  Page 62  |  Page 63  |  Page 64  |  Page 65  |  Page 66  |  Page 67  |  Page 68  |  Page 69  |  Page 70  |  Page 71  |  Page 72  |  Page 73  |  Page 74  |  Page 75  |  Page 76  |  Page 77  |  Page 78  |  Page 79  |  Page 80  |  Page 81  |  Page 82  |  Page 83  |  Page 84  |  Page 85  |  Page 86  |  Page 87  |  Page 88