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Nota20 - maio 2017


P 0 3


Há coisas que nunca mudam. Lamentavelmente, quando pensamos nessas coisas, ocorrem-nos, quase sempre, as menos boas, justamente aquelas que precisavam urgentemente de mudança. Por outro lado, há aquelas que são eternas e não poderiam ter mudado. Tanto! A Escola Dr. Manuel Gomes de Almeida, hoje sede do agrupamento de escolas com o mesmo nome, outrora Escola Comercial e Industrial de Espinho está a come- morar 60 anos de existência. Muitas pessoas que por aqui passaram, precisamente nas décadas de 60 e 70, são tentadas a pensar que a escola de hoje é igual à por elas frequentada no seu tempo, ignorando o quanto se alterou. Nessa altura, pouco mais do que dez por cento dos jovens permanecia na escola, depois da quarta clas- se, por isso, o ambiente que lá se vivia, correspondia à cultura das famílias de que eram oriundos. Poder-se-á dizer que pais e professores viviam em contextos seme- lhantes. Um ambiente em que eram conhecidas e res- peitadas as regras básicas da convivência, o que se re- fletia, depois, no espaço escolar. Os alunos não diziam palavrões, não cuspiam no chão, nem sequer ousavam levantar os olhos do chão quando eram chamados ao quadro. Os maus da fita ficavam do lado de fora e ape- nas tentavam a espreitar pelas grades da entrada, quan- do o contínuo estava de costas. A triagem era feita por natureza, feitas as devidas ressalvas. Sim, porque não podemos pensar que aqueles que não tinham condições para prosseguir, após terem concluído o ensino primário, (e eram a esmagadora maioria), eram todos mal- educados, preguiçosos e insolentes. Sabemos bem que não era assim. O problema de ficarem do lado de fora era outro! Agora que a escola, os professores e os contí- nuos eram uma referência não haja dúvidas! Talvez te- nhamos perdido essas referências e, então, será caso para dizer que se perdeu uma coisa boa. Com o passar do tempo, tudo se foi modificando. Lenta- mente, a televisão, a música pop, a turbulência de maio de 68 foram abrindo e mostrando aos adolescentes e aos jovens um outro mundo. Nessa altura, até se escre- via nas paredes “é proibido proibir”. E depois aconteceu a “Revolução de Abril”. Com ela, vieram mudanças no sentido de corrigir as desigualdades e repor a justiça. E as escolas foram recheadas com muitos, muitos mais alunos, podendo-se constatar que logo a seguir à revolu- ção, houve uma autêntica explosão, nomeadamente no Ensino Secundário. Até 1990, o número de alunos que chegou a este patamar, cresceu significativamente e só começou a diminuir a partir daqui quando se registou uma baixa taxa de Natalidade. Uma grande conquista. Uma verdadeira vitória. Uma coisa boa! A ruína do Estado Novo acontecera, finalmente, o que se fez sentir, também, nas escolas. Mas, a partir de 1974, começaram a aparecer alunos diferentes daqueles a que a instituição estava habituada. Muitos fizeram jus a um direito que há muito lhes era negado e aproveita-


ram a escola para construir um futuro diferente daquele que tiveram os seus pais. Contudo, outros eram hostis a regras e pouco interessados em estudar ou como diriam os sociólogos, com “comportamentos desviantes”. A es- cola, a esses alunos, afigurava-se-lhes como um mundo estranho, onde não queriam estar. É então que a escola percebe que tem de mudar, mas não sabe muito bem como. Os professores têm diante de si grupos heterogéneos, ritmos diferentes e exige-se deles uma resposta rápida e eficaz para todo o tipo de situações. Desde então, ninguém teve mais sossego. Vieram as leis, os decretos, as portarias que ninguém entendia, porque eram feitas nos gabinetes da Avenida 5 de Outu- bro, segundo uma (pseudo) ideologia, completamente desfasada da realidade e da sensatez. Vieram as refor- mas, as promessas de autonomia, os agrupamentos. E a escola tentava sobreviver e os professores tentavam ser professores. Frequentavam ações de formação, qua- se desconfiando da sua competência. A escola, outrora uma certeza, tornara-se num espaço de dúvidas. Hoje quando se fala de ensino e de educação, sobres- saem questões que há 60 anos ninguém imaginava co- mo a indisciplina na sala de aula, a dificuldade de edu- car, o incumprimento de regras, a responsabilidade das famílias e o facilitismo a que muitos dos nossos jovens se habituaram. Temos níveis elevados de escolaridade, mas que não correspondem a níveis de cultura. Muitos jovens mal sabem ler e muito menos interpretar o que leem. E não vale a pena tentar tapar o sol com a penei- ra, ou seja, resolver o problema através da manipulação dos números. Volvidos 60 anos, ainda temos uma escola, agora sede de um agrupamento, que nos dá motivos para continuar a acreditar na escola pública, onde se investe no traba- lho e numa formação séria. Onde diariamente aconte- cem atividades e dinâmicas dentro e fora das salas de aula que procuram dotar os alunos de conhecimentos e de valores. Mas espera-nos a todos um grande desafio: continuar a trabalhar sem ceder a facilitismos. Se a ideia de prolon- gar a escolaridade até ao 12º ano, decorre da ideia de que é melhor ter os jovens na escola do que na rua, en- tão que se torne claro que a escola tem de ser encarada como um espaço de trabalho para todos os que cá es- tão, qualquer que seja o curso ou a área frequentada. Mais ainda por ser uma escola pública. E não vale a pe- na inventar, e muito menos, perverter as regras. Sem trabalho, sem autoridade e sem referências, não há futu- ro que resista.■


A Equipa do Nota20


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