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Nota20 - maio 2017
São cada vez mais os artigos de jornal, os desabafos dos pais e as afirmações "soltas" que se insurgem contra o modo como as crianças vivem dependentes dos ecrãs. Os números afiançam que mais de 60% dos tablets das casas portuguesas já pertencem aos mais pequenos. E os especialistas vão recordando que as crianças que utilizam os tablets por um tempo superior a 30 minutos por dia podem vir a sofrer, futu- ramente, de dores nas costas e no pescoço e de ou- tras sequelas posturais. Seja como for, enquanto que em muitas famílias os tablets são a babysitter favorita para entreter as crianças, o alarme geral das pessoas crescidas a propósito deste "vicio dos tempos moder- nos" cresce, todos os dias. Como se a elas - e, sobre- tudo, aos adolescentes - se fossem barricando numa multiplicidade de instrumentos tecnológicos com um ímpeto tal que, aparentemente, ninguém os consegui- ria parar ou, mesmo, resgatar. E, em resultado disso, parecessem ir ficando alheados do mundo à sua volta, fossem falando por monossílabos ou por murmúrios, e fugissem ao contacto e à relação. E, sobretudo, a qualquer programa familiar de fim de semana. E, ain- da, parecessem tão "agarrados" aos ecrãs como um toxicodependente à substância da qual depende. Re- conheço que esta "onda" me preocupa. Muito! 1. Em primeiro lugar, porque ela parece representar uma "versão século XXI" daquilo que todos escutámos, an- tes, a propósito dos desenhos animados. Porque a Heidi e o Marco "é que eram" histórias a valer". E por- que os desenhos animados estariam a tornar-se "muito violentos" sendo, segundo muitos, os grandes responsáveis pela forma como muitas crianças estari- am a "perder os valores". Etc. É claro que, enquanto as lamúrias iam acontecendo, para muitos jardins de
infância, quando queriam que as crianças não corressem ou enquanto elas aguardavam a chegada dos pais, os desenhos animados estavam ali para as entreter. E quan- do os pais pretendiam que, entre os irmãos, a zaragata não escorregasse para níveis "assustadores" (antes do jantar, claro), ou quando queriam muito que os ímpetos madrugadores, ao sábado e ao domingo, não se transfor- massem em reivindicações estridentes do género: "Tenho fome!!", os desenhos animados já eram "amigos", estando ali entre o ansiolítico "levezinho" e os "aperitivos para o pequeno-almoço". 2. É claro que computadores, tablets e smartphones são "maquinões" poderosos. São sedutores. São amigos da atenção e da inteligência. Interpelam. Desafiam. E estimu- lam. Fazem, portanto, muito bem ao crescimento das cri- anças! Desde que não lhes sejam dados cedo demais. Não lhos disponibilizem por tudo e por nada. E não sejam deixados ao cuidado da "autorregulação" das crianças. Isto é, usados com sensatez, são vitamina do crescimen- to. Se bem que o seu abuso lhes estrague o crescimento saudável. 3.
Como se compreende, a multiplicidade de desafios que os nossos filhos têm ao seu dispor faz com que eles apurem as suas competências para a escolha. Escolher represen- ta reconhecer que não se pode ter tudo. Mas exige que se reflita, se pondere, se discorra, se sintetize, e que se hie- rarquizem prioridades. Por outras palavras, implica que se pense e se estude, se discuta, se discorra e se decida. Tudo o que a família e a escola deviam estimar muito mais vezes nas crianças. Ou seja: benditos "maquinões" que vão compensando os "défices de atenção" das muitas pessoas crescidas... 4. Seja como for, as crianças têm de compatibilizar as novas tecnologias e o "brincar tradicional". Têm de ligar corpo, imaginação, raciocínio hipotético-dedutivo e pensamento simbólico. Têm de construir e desconstruir. E têm de com- patibilizar o singular e o plural. Não basta, pois, que as deixemos "acantonar" todos os seus recursos nas áreas onde os seus desempenhos acabam por ser vitoriosos. Até porque se, como educadores, ainda não descobrimos quais acabam por ser as suas "necessidades educativas especiais", é porque nos estará a faltar um bocadinho pa- ra conseguirmos ajudá-las a transformar em recursos as competências que, efetivamente, elas têm. 5.
Neste contexto, fará sentido que uma escola que, tantas vezes, não deixa que as crianças vão do concreto para o
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