P 2 4 A propósito de
Nota20 - abril 2016
Era dia 13, Sexta-feira, em novembro de 2015 quando os parisienses viveram mais um dia trágico. Mais um! Eu, que nada percebo (e continuo sem perceber), fui, como todos deveríamos ter feito, informar-me. Fosse na internet, na televisão, junto de familiares, colegas ou até na aula de História. Também é verdade que o facebook me foi dando algumas dicas, nomeadamente, acerca da ignorância das pessoas sobre o assunto, o motivo e a moral escassa que têm para comentar. É que até este dia ninguém se preocupou em manter afinidades com este assunto do terrorismo que já tantas dores de cabe- ça deu aos americanos e companhia (i)limitada. No entanto, o importante é mostrar compaixão e solidari- edade pelos inocentes do atentado terrorista. E com to- do o respeito pelas famílias, amigos e conhecidos - nin- guém foi escolhido a dedo, o que pretendo esclarecer, nada terá de pessoal. Tudo isto não passa de uma história mal contada, um enredo em que o povo (os civis) só é afetado pelo final. Desconhecedora de tais negócios que andavam a voar por cima da minha cabeça (e que de tão pouco se fa- lam) tinha obrigatoriamente que encontrar uma explica- ção que me levasse a perceber tamanha carnificina. So- bre o que indaguei e descobri, gostaria de destacar o seguinte: primeiramente é necessário entender o porquê da França ter sido a escolhida (desta e da outra vez), pois com certeza não foi por mero acaso. Duvido que os terroristas gostem de jogar à roleta russa, até porque a Força Aeroespacial Russa “iniciou” o ano com a realiza- ção de 157 missões, alvejando cerca de 600 instalações terroristas na Síria e deverão, em breve, mostrar os seus dotes para o jogo. Não obstante a multiplicidade de factos que poderiam ser referidos, alguns deles deverão ser conhecidos por todos. Merece especial relevo o documentário que na altura do atentado em Paris foi programação no canal Odisseia. Sabe-se, através das fontes, que as revolu- ções árabes foram as primeiras onde se usaram as re- des sociais e os telemóveis para fazer circular a informa- ção a uma grande velocidade. Os ativistas punham a revolução em movimento a partir dos computadores de suas casas. Empresas ocidentais proporcionavam a al- gumas ditaduras, como as da Líbia, da Síria ou do Ba- rém, os métodos de vigilância necessários para comba- ter este novo tipo de dissidência, realizando o seguimen- to de comunicações, estabelecendo localizações ou fil- trando os comentários das redes sociais. É aqui que o Odisseia adquire um papel indispensável ao demonstrar um trabalho de investigação que examinou como e onde estes estados criminosos compraram os equipamentos. Imagine-se! Através de acordos com empresas france- sas e altos membros do governo. Pois é, agora é que as coisas começam a ficar sérias. Pois então, a França era
inocente em toda a sua integridade!... Deparamo-nos agora com questões que comportam responsabilidades morais. Vêm falar de direitos humanos e lutas antiterro- ristas quando na verdade estão todos mais preocupa- dos com o rendimento económico, rendimento esse que, diga-se, serve para financiar os seus interesses. O que acontece não é nem mais nem menos do que o reflexo do capitalismo selvagem em que vivemos e da ganância dos homens que estão no poder. Por outro lado, um grupo com características religiosas bem vin- cadas usa o pretexto da religião para fins políticos e faz explodir os territórios dos que lhe financiaram o arma- mento. “Eu dou-te as armas para tu lutares comigo”. São estes os bons códigos morais e os princípios ideo- lógicos que agregam os mais influentes dos governos em organizações de paz e amor. A este propósito, não é de esquecer que já antes deste episódio, outro foi notícia em todo o lado, que foi o crime hediondo cometido contra os jornalistas e cartoonistas do Charlie Hebdo. Este jornal publicava textos e carica- turas de profundo mau gosto, abjetos, inconvenientes, que testavam os limites da liberdade de expressão nu- ma sociedade repleta de tabus, preconceitos, moralis- mos e hierarquias. O que se passou no atentado ao Charlie Hebdo foi uma manifestação de um fanatismo político-religioso. É certo que é preciso ter em conta a sensibilidade dos outros e evitar proferir publicamente palavras que chocam as crenças de qualquer tipo, mas também não podemos abdicar da nossa responsabilida- de e liberdade enquanto seres humanos e cidadãos de sociedades democráticas. Embora a liberdade de ex- pressão não pressuponha limites, tal não é uma realida- de em todos os Estados democráticos, o que não justifi- ca ou atenua a morte dos cartoonistas em questão. Num outro plano, recordemos ainda um dos mais violen- tos atentados, arquitetado por Osama Bin Laden e o seu grupo terrorista Al Queda, que vitimou milhares de norte -americanos no dia 11 de Setembro de 2001. O governo norte-americano, por possuir uma das maio- res economias do mundo contemporâneo, criou várias estratégias de intervenção nos assuntos políticos dos países economicamente vulneráveis do Médio Oriente, nomeadamente o Egipto e a Líbia. Este financiamento de regimes ditatoriais foi motivado por razões económi- cas, tendo os Estados Unidos fornecido apoio bélico aos seus líderes políticos. É possível que o principal objetivo desta jogada fosse a obtenção do controle das regiões com reservas petrolíferas, uma vez que os EUA são os maiores consumidores deste produto. Mais uma vez, os interesses económicos excedem as responsabilidades morais e os direitos humanos. Depois, a extrema agressividade do Ocidente também já causou a morte de muitos milhares de civis inocentes (quase todos muçulmanos), daí os jovens islâmicos ra- dicais declararem que a sua radicalização nasceu da revolta contra tanta violência impune: que também mui- tos que jovens foram mortos no Iémen num atentado bombista na mesma data que o atentado contra Charlie Hebdo; que invasões israelitas causaram centenas de mortes só no último ano; que jornalistas são assassina- dos por defenderem a liberdade de imprensa… A minha pergunta é: O valor da vida difere do sítio de onde ela provém? Uma reflexão sobre os valores e por que razão se afir- mam ou não consoante os contextos é uma passo a ser dado por todos.■
Luísa Montenegro, 11º6ª
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