Nota20 - abril 2018
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contaminados e fazem análises com regularidade aos produtos que são para consumo. Na altura da catástrofe as pessoas foram avisadas para levarem apenas roupa para três dias, mas o facto é que nunca mais re- tornaram às suas casas. Têm dúvidas que o sarcófago elimine todos os problemas e perigos. Falámos sobre a madeira contaminada que Chernobyl vende, principalmente a uma grande empresa internacional de mó- veis. O Município de Ivankiv referiu que não tem nada a ver com o que Chernobyl faz e que a madeira que Ivankiv vende, até para as lareiras, é certificada e que está limpa, sem conta- minação. As verdadeiras consequências do desastre só se começam a assistir agora, tal como os técnicos previram na época. Já pas- saram trinta anos! Ofereceram-nos um quadro feito por crianças com folhas se- cas. Infelizmente não o pudemos trazer, por ser demasiado grande, mas iremos arranjar forma de o transportar na próxima viagem. Dia 22 Este dia foi passado em Chernobyl e Pripyat. Com antecedência tivemos de tratar dos vistos de entrada para todos e contratar um guia, que falava inglês. Nesta zona do país é muito difícil encontrarmos alguém que fale outra língua, que não seja a ucraniana. Foi-nos sensibilizando para o erro humano e para o que pode acontecer em centrais nucleares em consequência do mesmo. Encontrámos vários controlos onde nos pedem o passaporte e só parámos nos sítios devidamente autorizados. Como tínha- mos no carro o quadro que nos tinham oferecido, passaram- nos um certificado em como entrámos com o quadro e não o tirámos de nenhuma das casas abandonadas. Vimos a única estátua de Lenine ainda existente no país. To- das as outras foram destruídas. Uma das paragens obrigatórias é no mítico infantário. Junto às árvores estão os brinquedos abandonados e dentro do edifício, entre muita destruição, livros e brinquedos envelhecidos. O guia falou-nos na radiação. Nos caminhos alcatroados por onde andámos não existe radiação, mas nos solos sim e junto às raízes das árvores. A radiação sobe pelas raízes e está em toda a madeira, vegetação e frutos – tudo contaminado. Con- forme aproximou o detetor de radiação aos caules, foi vermos os valores a aumentarem radicalmente. Estivemos no largo da central, mesmo ao lado do sarcófago, onde vimos muitos trabalhadores a entrarem e a saírem dos seus locais de trabalho. Pripyat é uma cidade fantasma! Tomar conhecimento da vida que aquela cidade tinha e no que se tornou é desolador. Visita- mos alguns locais, sempre sobre a vigilância do nosso guia,
não fôssemos entrar em sítios que não devíamos, seja por esta- rem contaminados, seja pela ameaça de ruírem. Antes de sairmos, tivemos de passar por uma máquina antiga que deteta os níveis de contaminação. Todos, sem exceção, que saem do perímetro de Chernobyl, têm de passar neste detetor. Uma história caricata. Um destes dias, um grupo de trabalhado- res ao sair de Chernobyl, tal como nós, teve de passar num con- trolo que é feito à volta do carro e a máquina começou a apitar. Tiveram de sair todos e passar pela mesma máquina que nós. Um deles estava com níveis altos de radiação. Estranharam, e o rapaz teve de se despir e voltar a passar na máquina. Então não era que a radiação estava nas meias?! Dizem que foi com ami- gos para os edifícios abandonados de Pripyat e andou descalço lá e por onde não devia! Crença que nos contaram, também sui generis! Beber três shots de vodka e a seguir fazer uma sauna, faz com que a radiação sai toda pelos poros da pele! Preferimos não arriscar. Ainda antes de irmos jantar, fomos ao Centro de Dorivia, onde fomos homenageados e nos agradeceram pelo livro “Verão Azul dos afetos”, inclusive ao autor, Mário Augusto, bem como por todo o trabalho que temos feito ao longo destes anos. Dia 23 Conseguimos um bocadinho de tempo livre e fomos a Kiev, até porque algumas pessoas que acompanharam a ACLIS nesta viagem não conheciam. Praça Central, Seminário e loja do Dínamo de Kiev foram para- gens obrigatórias. Regressámos a Lisboa no dia 24 cansados, mas com todos os objetivos pretendidos com esta viagem atingidos. Agora vamos continuar a trabalhar para que a estadia de cinco semanas destas crianças em Portugal, no verão de 2018, corra lindamente e que voltem as suas casas com mais saúde.■
aclis@libertyseguros DESCONFIO DA EDUCAÇÃO Caro Professor
Sou um sobrevivente de um campo de concen- tração. Os meus olhos viram o que jamais olhos humanos deveriam poder ver: - Câmaras de gás construídas por enge-
nheiros doutorados; - adolescentes envenenados por físicos
eruditos; - crianças assassinadas por enfermeiras
diplomadas; - mulheres e bebés fuzilados e queima-
dos por bacharéis e licenciados. Por isso desconfio da educação. Eis o meu apelo: ajudem os vossos alunos a serem humanos. Que os vossos esforços nun- ca possam produzir monstros instruídos, psico- patas competentes, Eichmanns educados. A leitura, a escrita, e a aritmética só são
importantes se tornarem as nossas crianças mais humanas.
(Carta ao diretor no “New York Times”)
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