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Entrevista | Orientação


“GOSTARIA QUE AS PESSOAS COMEÇASSEM A TRATAR-SE POR IGUAL”


Poderia ter sido apenas um mero acidente, sem grandes consequências. Um acidente igual a tantos e tantos outros que acontecem, fruto da irrequietude e força de ser criança. Quis o destino, porém, que este fi casse para sempre gravado no corpo e na memória da Diana.


C


hama-se Diana Patrícia Pinto Coelho, tem muitos sonhos para viver e uma história para contar. Com apenas 8 anos de idade, a


pequena Diana sofreu um acidente que lhe roubou os movimentos da cintura para baixo e a atirou para uma cadei- ra de rodas. Assistida inicialmente no Hospital de S. João – Porto, foi transfe- rida depois para o Serviço de Medicina Física e de Reabilitação do Hospital da Prelada, onde permaneceu internada durante longos três anos e meio. Nun- ca deixou de frequentar as aulas, aí fez o exame da 4ª classe, aí prosseguiu os anos seguintes do Ensino Básico, aí as- sistiu às naturais transformações que o seu corpo foi sofrendo. E aí percebeu que a sua vida seria, a partir desse mo- mento, feita de adaptações. Actualmente com 17 anos e frequen- tando o 12º Ano de Escolaridade na Escola Secundária de Baião, Diana Co- elho é a convidada de honra do Orien- tovar. É ela que nos fala das suas expe- riências e dos seus anseios, dos seus sonhos e receios. E que nos dá a ver uma sequência de passos onde a reali- dade - assente na palavra “reabilitação” - caminha de mãos dadas com a espe- rança num mundo mais justo e melhor.


“De início não mexia as pernas nem as sentia”


O Praticante – Para que se perceba melhor o que está em causa, quer-me falar um pouco da sua doença? Diana Coelho – No dia 12 de Março de 2002, sofri um acidente que me afec- tou a coluna e me fez ficar paraplégica. Com muito trabalho de reabilitação já


recuperei um pouco da sensibilidade nos membros inferiores, sobretudo no membro inferior esquerdo, e também já tenho mobilidade no membro inferior di- reito. Mas de inicio não mexia as pernas nem as sentia.


O Praticante – Em que consiste esse trabalho de reabilitação? Diana Coelho – Actualmente é um trabalho feito em regime de Ambulató- rio, e desloco-me de Baião, três vezes por semana, ao Serviço de Medicina Física e de Reabilitação do Hospital da Prelada, no Porto. Todo o trabalho tem como objectivo tornar-me o mais inde- pendente possível. Entretanto já iniciei treino de marcha e andar com a ortótese e canadianas é o tratamento de agora; o objectivo será poder incluir nalgumas coisas do meu dia-a-dia esse treino. Se conseguisse, seria óptimo.


“As dificuldades começam logo dentro de casa”


O Praticante – De que forma é que se sente condicionada nas activida- des de vida diárias? Diana Coelho – Claro que tive de fazer uma série de ajustes no meu dia- -a-dia, mas a minha força de vontade faz com que vá conseguindo levar uma vida praticamente normal. As dificulda- des começam logo dentro de casa, mas essas consigo contornar... Por exemplo, a minha casa tem escadas e felizmen- te já me consigo firmar no corrimão e posso subi-las e descê-las. Agora, há outras nos lugares públicos que não consigo evitar e não tenho muito como as vencer. E há ainda aquelas que a So-


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ciedade nos coloca. As dificuldades por vezes já existem e as pessoas à nossa volta, em vez de compreender e facilitar, fazem questão de tornar as coisas ain- da mais difíceis.


O Praticante – A Escola Secundária de Baião está devidamente adaptada a pessoas com este tipo de deficiên- cia?


Diana Coelho – Por aquilo que ouço e do que conheço, a minha Escola não é das piores. Na verdade os passeios são um bocadinho altos, são mesmo aquele tipo de passeios que não se conseguem subir. Essa é, basicamente, a grande barreira arquitectónica dentro da Escola. De início a Escola também não tinha elevadores. Onde era realmen- te necessário um elevador era no Pavi- lhão onde tinha aulas e onde ficavam a Biblioteca e o Auditório e na verdade o Conselho Directivo tratou de colocar um elevador na escada. Entretanto foram também construídas rampas de acesso a algumas zonas e, agora que a Escola vai entrar em obras, espero que as res- tantes barreiras arquitectónicas possam ser abolidas.


O Praticante – Essa menor facilida- de em se deslocar não a faz sentir-se diminuída em relação aos seus cole- gas, por exemplo? Diana Coelho – Se calhar um bocadi-


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