This page contains a Flash digital edition of a book.
viver bem na Orientação


“Preciso de correr para remover o acido latico e nao ficar preso amanha.”


~ TEXTO MIGUEL SILVA Esta teoria começou com o


pressuposto de que numa corrida rápida (A) existe maior acumulação de ácido lático (B) e leva a um aumento dores musculares no dia seguinte (C). Sendo que A->C, inferiu-se erradamente que B->C.


O “ficar preso no dia seguinte” é um fenómeno chamado Delayed onset muscle soreness (DOMS), tende a ocorrer 24 a 72h após o esforço e não se encontra relacionado com a acumulação de ácido lático cujos níveis retornam ao normal passados 30min após o esforço.


´ ´ Para piorar ~


preenchido por fluido, o que causa edema e resulta num aumento do diâmetro das pernas passadas umas horas.


são


Depois existem vários pressupostos que não encaixam na teoria do ácido láctico: DOMS é mais intenso após corridas muito rápidas ou longas distâncias a ritmos lentos. DOMS é mais intenso em corridas a descer ou que gerem impacto, como qualquer atleta que já tenha experimentado corridas de montanha poderá atestar. DOMS tem uma grande incidência nos treinos do início de época. O ciclismo não gera DOMS. E apenas com estes pressupostos empíricos já podemos ter uma ideia da causa.


A verdade é que existe um estudo de 1902 que já associava as dores musculares pós-exercício às microrroturas musculares. Passado um século, voltamos à aparente real origem do fenómeno.


Quando nos exercitamos


impacto/intensidade musculares;


existem basicamente destruímos


com elevado microrroturas fibras


musculares. No entanto, o nosso organismo responde ao dano estrutural com um processo que vai resultar num músculo globalmente mais forte e mais durável, “limpando” a área destruída. Deste modo, passadas algumas horas a zona da lesão é invadida por fluido e células. As primeiras a chegar são os neutrófilos e macrófagos que destroem o tecido morto. Os neutrófilos chamam outras células como os monócitos que libertam citoquinas que funcionam como químicos que ajudam a destruir o músculo (estas citoquinas é que permitem que enzimas musculares escapem de dentro das células para o sangue e por isso é que após o exercício poderão ter a CK elevada numas análises de rotina). Quando o músculo é removido, esse espaço é


? ! “Pain is temporary. It may last a


minute, or an hour, or a day, or a year, but eventually it will


subside and something else will take its place.”


Quanto à corrida leve após o exercício, há muitos atletas que notam diferenças na recuperação; eu mesmo a continuo a fazer, para relaxar, para conviver, mas não pelo Lactato.


Texto baseado em vários estudos disponíveis na Medline/Pubmed e na 1ª edição do “The runner’s body” do Prof. Ross Tucker e Prof. Jonathan Dugas.


... libertadas


prostaglandinas, histamina e bradiquininas que vão ser responsáveis pela sensibilização dos terminais nervosos e, consequentemente, pela dor. A dor que poderá parecer um impeditivo é, de facto, um mecanismo eficiente de prevenir mais dano a um organismo em reparação. Pouco depois a área afetada é repopulada por novas células mais resistentes que vão impedir que este fenómeno se volte a repetir para intensidades/impactos semelhantes. Poderá eventualmente repetir-se em indivíduos muito bem treinados quando usam de músculos habitualmente pouco usados (como se formos experimentar ténis durante uma tarde).


Há atletas que usam anti-inflamatórios, há médicos que recomendam em algumas situações para aliviar a dor. Na minha humilde opinião, não vejo vantagem nenhuma em impedir um mecanismo reparador. Como diria o Lance Armstrong:


33


Page 1  |  Page 2  |  Page 3  |  Page 4  |  Page 5  |  Page 6  |  Page 7  |  Page 8  |  Page 9  |  Page 10  |  Page 11  |  Page 12  |  Page 13  |  Page 14  |  Page 15  |  Page 16  |  Page 17  |  Page 18  |  Page 19  |  Page 20  |  Page 21  |  Page 22  |  Page 23  |  Page 24  |  Page 25  |  Page 26  |  Page 27  |  Page 28  |  Page 29  |  Page 30  |  Page 31  |  Page 32  |  Page 33  |  Page 34  |  Page 35  |  Page 36  |  Page 37