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Entrevista | Orientação não têm problemas.


“Aquilo que é simples para mim, pode não o ser para os outros”


O Praticante – Em Alijó confessou


Diana Coelho – A minha primeira experiência com a Orientação de Pre- cisão foi em Alijó, no dia 4 de Outubro do ano passado. Foi surpreendente! Eu não praticava qualquer tipo de desporto e esta foi a primeira vez que participei em algo do género. É claro que, ape- sar dos condicionalismos, uma pessoa como eu pode praticar desporto. São necessárias adaptações, dá algum tra- balho, mas é possível. A verdade é que os meus professores de Educação Físi- ca, até ao 9º ano, me puseram sempre um bocadinho de lado. Foi só no 10º ano que tive uma professora que me proporcionou alguma actividade física no âmbito da disciplina. Fez um plano de aulas só para mim e era avaliada, tal como os meus colegas, embora dentro de parâmetros diferentes. A partir daí passei a fazer Educação Física e agora estou a fazer. Mas aquela primeira pro- va… Eu adorei! Não tinha a noção do gozo que poderia ser fazer uma prova de Orientação de Precisão.


O Praticante – Quando os colegas lhe perguntam o que é a Orientação de Precisão, o que é que lhes diz? Diana Coelho – Tento mostrar-lhes que se trata dum desafio. No caso de- les não é tanto a parte física que está em causa, embora para nós uma prova destas implique talvez um pouco mais de esforço do que aquele que é habitual no dia-a-dia. Mas é um desafio sobre- tudo intelectual e que nos mostra que o desporto é para todos. É uma forma de ultrapassar o preconceito de que só podem fazer desporto as pessoas que


que era bom que houvesse uma prova destas na sua Escola e, na verdade, dois meses depois, o seu desejo con- cretizou-se. Foi no Dia Internacional da Pessoa com Deficiência e teve a participação de outras pessoas com problemas semelhantes aos seus. Ainda se lembra do que sentiu? Diana Coelho – Foi muito bom, ainda para mais porque a reacção dos meus colegas e da generalidade dos alunos da Escola foi muito agradável, muito positiva. Só foi pena que não se tivesse mobilizado toda a comunidade escolar para participar na actividade, mas mes- mo assim foi muito bom. Julgo que acharam interessante, fi- caram sensibilizados e viram que, afi- nal, podemos participar numa mesma actividade em pé de igualdade. Não adianta muito vermos na televisão o dia- -a-dia de certas pessoas, já que não se fica com uma realidade tão presente; aquilo que é importante é que se esteja próximo das pessoas, que se viva esse mesmo dia-a-dia. A reacção deles, no final, foi no sentido de manifestarem o interesse em que se continue a fazer este género de coisas.


O Praticante – Até hoje, participou


em três actividades do género. Qual a sua opinião sobre o grau de dificulda- de das provas? Diana Coelho – A dificuldade maior tem sempre a ver com a progressão. Mesmo nas cidades, foi necessário uma ajuda para vencer os passeios ou ou- tras coisas assim. Mas em termos das provas em si, o nível de exigência não foi muito elevado. Há sempre aqueles pontos onde te- mos mais dúvidas e que colocam al- guns problemas. Mas aquilo que é sim- ples para mim, pode não o ser para os outros ou vice-versa. Isto não apenas no aspecto intelectual, mas também físico, visto que algumas pessoas precisam mais de ajuda do que eu, por exemplo, a chegar a determinado ponto ou o con- trário.


“É preciso lutarmos por estas coisas”


O Praticante – Depois dessa con-


versa com o Presidente da Câmara Municipal, vamos mesmo ter uma


69 Janeiro 2011 JOAQUIM MARGARIDO [Fonte: www.orientovar.blogspot.com]


grande prova de Orientação de Preci- são em Baião? Diana Coelho – Eu espero que sim. Não apenas por uma questão de mos- trar às pessoas o que é a Orientação de Precisão, mas também como forma de as pôr em contacto com outro tipo de pessoas.


Eu não gosto quando fazem duma pessoa um ‘coitadinho’ ou ‘oh que pena’. Não gosto. Esta era uma maneira das pessoas em Baião verem a realida- de duma forma diferente.


O Praticante – Gostaria de continu-


ar a praticar Orientação de Precisão? Diana Coelho – Adorava. Era impor- tante que houvesse mais provas, um pouco por todo o País e mesmo que eu não pudesse participar, poderiam par- ticipar outras pessoas. Aliás, as pesso- as que têm este tipo de problema, se tiverem oportunidade de experimentar o que é uma prova de Orientação de Pre- cisão, recomendo que o façam. As pessoas que, tal como eu, têm al- guma incapacidade física, não devem ficar a pensar naquilo que não podem fazer. Devem, isso sim, criar objectivos, participar em iniciativas. Devem pensar no que podem fazer, no que podem in- vestir para que sintam bem, realizados e com prazer na vida. E devem fazê-lo porque é preciso lutarmos pelas coisas e fazer coisas que nos dão prazer e que nos fazem sentir felizes... temos esse direito!


“Colocar o preconceito de parte”


O Praticante – Para finalizar, que mensagem gostaria de deixar? Diana Coelho – Gostaria que as pessoas começassem a tratar-se por igual. Normalmente temos um bocadi- nho a tendência para discriminar, seja por problemas físicos, por questões de raça, por razões de natureza social e outros. Parece que só aquilo que é nos- so ou se parece connosco é que é bom e, afinal, não é bem assim. Acho que é preciso colocar o preconceito de parte porque, se formos a ver, somos todos iguais.


Está na altura de pôr um ponto final na discriminação. Está na altura de nos ajudarmos e de transmitirmos confiança àqueles que mais necessitam. Aqueles que são, aos olhos da sociedade, me- nos válidos, têm muito a dar. E todos aqueles que estão à sua volta têm muito a aprender com eles.


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